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NELSON MOTTA
Liberdade obrigatória
RIO DE JANEIRO - Se o fundamental em qualquer eleição é quem
vota em quem, para fazer o quê, a
primeira questão de qualquer reforma eleitoral deve ser o voto obrigatório.
Que valor pode ter o voto de alguém que escolhe sob coação? São
votos eticamente nulos e politicamente inconscientes, que só beneficiam os piores candidatos. Que tal
uma lei obrigando os cidadãos a serem livres?
Em nenhum país civilizado do
mundo um cidadão é obrigado a votar. Aqui, como símbolo patético do
país da impunidade, a pena para
quem não cumpre a lei absurda é
uma multa ridícula e, depois de três
faltas, o pior castigo é não poder ter
emprego público nem poder fazer
negócios com o governo.
Os "progressistas" temem que o
voto facultativo piore ainda mais as
coisas, os coronéis do terceiro milênio obrigarão suas clientelas cativas
a se alistar, os burgueses desiludidos não se levantarão de suas poltronas para votar nos "homens de
bem", e os bandidos vencerão.
A maioria dos políticos de todos
os partidos não quer mudar nada, é
pelo clientelismo e a ignorância que
eles se perpetuam no poder. Um cidadão, um voto, é o princípio democrático que eles mais amam e usam:
com a manada obrigada a mugir, fica mais fácil contar as cabeças e distribuir a ração. Chega dessa conversa mole de que é um dever, mais
um. Dever é uma obrigação, como
pagar impostos, que fazemos à contragosto; direito é a liberdade de escolher. Ou não.
No Rio de Janeiro, por exemplo,
tivemos que "escolher" entre Rosinha e Benedita. Não valia nem a sola do sapato para ir à zona eleitoral
votar nulo.
E, já que as duas são evangélicas,
é bom lembrar que foi a maioria absoluta da multidão votante de Jerusalém que condenou Jesus Cristo à
morte. Pilatos foi só o juiz eleitoral.
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