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JOSÉ SARNEY
China, Kourou e as amazonas
VAMOS IMAGINAR o que foi,
na Idade da Pedra Lascada,
o domínio do fogo ou a descoberta de novas terras, a aventura
de navegar contra o vento, entender o funcionamento da natureza,
com a Terra a girar em fantástica
velocidade em torno de seu luzeiro
maior -como diz a Bíblia-, o Sol.
E, hoje, avaliemos as conseqüências destes tempos transformados
da sociedade de comunicação, que
entrou instantaneamente, possibilitando a era da globalização, em
que todos somos atingidos por
tudo.
A Revolução Industrial teve
maior impacto naqueles anos do
fim do século 18 e começo do 19 do
que a que assistimos agora na área
de tecnologia. A máquina a vapor,
concorrente do homem na substituição do trabalho braçal, surpreendeu mais do que a TV, o celular, os bancos de dados, a internet.
Quando estes chegaram, já havia a
desconfiança de que nunca pararia
a aventura do homem -e nos preparamos para isso. Acreditamos
que chegaríamos aos limites da natureza. E o seu fim só vai esbarrar
no próprio homem. "O homem é o
lobo do homem" (Hobbes, "De Civi", Plautus, "Asinaria -homo homini lupus").
Imagino a cabeça dos 600 frades
franciscanos que levaram à catedral de Notre Dame os índios do
Brasil para serem batizados por
Luís 13. Aqueles seres nus, pobres,
ingênuos. Os espanhóis levaram da
América ouro e prata. Os franceses,
só aquelas pobres almas entregues
ao Diabo, para serem convertidas
ao cristianismo e salvas para Deus.
Falo essas coisas para avaliar o
espanto que ainda nos causam as
descobertas. Não as desconhecidas, mas as renovadas, como as da
China. A Xangai envolvida na penumbra do ópio e a de hoje, das
Bolsas derrubando a economia no
mundo inteiro. O Ano Novo chinês
lunar, o país já tendo 460 milhões
de celulares, registrou 14 bilhões
de mensagens de felicitações, no
sistema de torpedos. O mundo fica
estreito para tanto afeto.
Tudo caminha. Mudando de um
pólo a outro, a base de Kourou vai
lançar naves espaciais tripuladas, e
os russos fazem um acordo com os
franceses para operar o Soyuz renovado -o famoso foguete que leva os astronautas russos desde
1967 e o nosso astronauta Marcos
Pontes- aqui em nossas barbas.
E Alcântara, mais bem localizada
que Kourou, dorme o sono da satisfação de nossa burrice. Recusamos
os acordos internacionais e ficamos no ramerrame da xenofobia.
O Brasil tem que entrar nas tecnologias do futuro, senão seremos
uma colônia cultural. Ou então
mostrar nossos índios em Notre
Dame e ainda pensar nas lendárias
Amazonas de um seio só, mulheres
guerreiras que só recebiam machos nas noites de lua, banhando-se num lago de ouro.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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