|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Hora da verdade
EMBORA freqüente o noticiário há tempos, a proposta de
reforma tributária do governo federal tem seu conteúdo
específico ainda envolto em muita indefinição. Como, de acordo
com o velho adágio, o diabo mora
nos detalhes, essas indefinições
suscitam justificadas dúvidas.
As mudanças pretendidas são
conhecidas e positivas: a redução
do número de tributos; o fechamento de brechas que propiciam, no âmbito do ICMS, grande evasão e intensa guerra fiscal;
a desoneração da folha de salários; uma maior progressividade
na cobrança do imposto de renda
das pessoas físicas.
Essas alterações não implicariam, diz o governo, aumento da
carga tributária, já excessiva,
nem enfrentariam resistências
incontornáveis no Congresso. As
parcas informações até o momento disponíveis lançam dúvida sobre essas promessas.
Um exemplo ilustra o ponto. A
simplificação de tributos proposta implica a extinção de várias contribuições sociais, unificadas num único imposto. Mas
como ficaria, nesse novo desenho, a questão, sempre conflituosa, da partilha de recursos entre União, Estados e municípios?
Hoje toda a arrecadação de
contribuições sociais fica nas
mãos da União. Já a receita dos
principais impostos federais é
repartida com os governos subnacionais. Como a União pretende compensar a perda de receitas, possivelmente forte, que sua
proposta pode provocar? O contribuinte, escaldado, logo vislumbra o risco de novos, e intoleráveis, aumentos de alíquotas.
Outro ponto de dúvida diz respeito às mudanças nas alíquotas
do Imposto de Renda e à sua efetividade como meio de tornar a
arrecadação mais justa.
Para que tais incertezas e receios possam dissipar-se, será
necessário que o governo detalhe sua proposta. Isso tornará explícitos inúmeros conflitos de interesse. Só então se poderá verificar até que ponto o Planalto de
fato se empenhará para que as
mudanças prometidas vinguem.
Texto Anterior: Editoriais: A favor da ciência Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: O príncipe e Palocci Índice
|