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CLÓVIS ROSSI
O príncipe e Palocci
SÃO PAULO- Quer dizer, então,
que o príncipe Harry serviu dez semanas no Afeganistão? Queria saber se há um só filho, já não digo de
presidente da República, mas de
um simples vereador da mais remota cidadezinha do mais remoto Estado brasileiro, a serviço com as
tropas brasileiras no Haiti.
Aliás, há algum filho de autoridade que não seja dispensado do serviço militar obrigatório?
O "Daily Telegraph" festejou a
presença do príncipe assim: "Excluir o príncipe de operações de
combate -como o Ministério da
Defesa originalmente o fez, por
causa do medo de que poria em particular perigo a sua unidade- sugeriria que há uma regra para os
membros da família real e outra para o resto das Forças Armadas".
É um exagero. É óbvio que a família real britânica goza de "regras"
(leia-se privilégios) que não estão
ao alcance dos mortais comuns.
Mas o fato de Harry não ter sido
poupado de uma estada nesse paraíso turístico chamado Afeganistão, comparado às "regras" não escritas que valem para a aristocracia
brasileira não coroada nem titulada, é todo um compêndio sobre hábitos e costumes nada republicanos
no pobre país tropical.
Por aqui, predomina o comportamento monárquico absolutista de
quem detém fatias de poder, de que
dá prova o caso Antonio Palocci.
Posso estar sendo ingênuo, mas
continuo achando que Palocci não é
um delinqüente. Cometeu, sim,
uma delinqüência, na violação do
sigilo do caseiro Francenildo dos
Santos Costa.
Mas parece razoável atribuir a
delinqüência não a um DNA delinqüencial mas à certeza de que a uma
autoridade tudo está permitido,
ainda mais contra os de baixo. Ou,
para citar o "Telegraph", tinha a
certeza de que "há uma regra para
os membros da família real [no caso, o ministério da República] e outra para o resto".
É a República imperial.
crossi@uol.com.br
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