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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Boa surpresa, por enquanto
HAVIA MUITO tempo que ela
não ligava. Telefonou-me
na quarta-feira, assim que
leu a principal manchete da Folha:
"Sem CPMF, arrecadação sobe
R$ 9,6 bilhões".
Todos se lembram da guerra de
números que se travou durante o
processo que terminou com a extinção da CPMF. O governo implorou para que não se acabasse com
aquela contribuição sob pena de
não conseguir manter os recursos
da saúde.
A Joaninha, que desde os tempos em que estudávamos no ginásio é curiosa e impertinente, quer
saber se o governo mentiu ou errou na estimação da receita para
2008. Afinal, só no primeiro mês, o
seu faturamento aumentou R$ 10
bilhões.
Ela recordou que alguns dos representantes do governo chegaram a ameaçar os parlamentares
que se diziam contra a manutenção da CPMF, prometendo colocar
seus nomes no rádio, na TV e em
outdoors como responsáveis pelo
colapso do SUS. Foi um verdadeiro
terrorismo.
Eu mesmo fiquei preocupado,
pois, militando no campo da saúde
há 50 anos, sei bem o quanto fariam falta os R$ 39 bilhões daquela
contribuição. Cheguei a considerar
a idéia de que fosse criado um outro imposto para o mesmo fim -o
que recebeu a critica ácida da Joaninha e de outros amigos.
Vejo agora que, num mês magro
como janeiro, a arrecadação federal foi de R$ 63 bilhões, 20% acima
do mesmo mês em 2007. A Joaninha tem razão de conjecturar.
Sei que esse aumento não se repetirá de maneira linear ao longo
do ano. Por outro lado, não se pode
dizer que o governo terá um rombo
de R$ 39 bilhões. Com o aumento
do IOF e da Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido no setor
bancário, e ainda com o próprio
crescimento da economia, que
promete repetir os 5% do ano passado, mais da metade do que se foi
voltará. Resta às autoridades racionalizar os gastos e fazer economia
nas despesas do governo.
Mas esse é o grande problema.
As contratações não param. As
despesas com viagens e diárias aumentam a cada dia. O déficit previdenciário é crescente. A reforma
da Previdência não veio. A trabalhista tampouco.
Sem mostrar o menor apetite
para cortar despesas, o governo
apresenta agora um projeto de reforma dos impostos que promete
não aumentar nem diminuir a
atual carga tributária. Ora, o que o
país precisa é de uma diminuição
dessa carga, o que pode ser obtido
por uma boa racionalização dos
gastos públicos.
Se até hoje nada foi feito nesse
campo, dá para acreditar que o
quadro será diferente em 2008,
que é um ano eleitoral?
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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