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Riscos da China
Políticas econômicas do país asiático podem acarretar problemas futuros e afetar o próprio crescimento brasileiro
O GRANDE fenômeno da
década de 2000 na
economia mundial foi
a ascensão da China
como protagonista de primeira
grandeza na produção e nas finanças, com consequências marcantes para o resto do mundo.
Para o Brasil, a influência mais
direta se deu por meio das exportações de commodities, que cresceram a ponto de a China ter se
tornado em 2009 o maior mercado para as empresas brasileiras.
O impacto da demanda chinesa nos preços das matérias primas foi talvez o principal fator da
notável transformação das contas externas brasileiras, o que,
por sua vez, abriu caminho para
o crescimento.
Uma eventual mudança para
pior no quadro da expansão chinesa seria danosa para a economia global e para o Brasil em particular. A China foi o caso mais
marcante de superação da crise
de 2008. Conseguiu crescer 8,7%
no ano passado, enquanto o resto do mundo patinava. Para isso,
usou com força máxima os instrumentos de que dispunha: o investimento governamental e o
crédito dos bancos públicos.
Para compensar o colapso das
exportações, o governo chinês
adotou um pacote fiscal equivalente a 16% do PIB, o maior do
mundo (em proporção ao tamanho da economia), voltado para
investimentos em infraestrutura. Mas, ao contrário da maior
parte dos países, que incorreu
em deficits fiscais para fazer
frente à crise, na China foram os
bancos oficiais os principais
agentes de estímulo. A expansão
do crédito bancário atingiu US$
1,35 trilhão em 2009, quantia
equivalente a nada menos que
30% do PIB.
Ocorre que o próprio sucesso
destas políticas na retomada do
crescimento traz dúvidas sobre
sua sustentação no médio prazo.
A principal delas está relacionada à qualidade dos créditos que
foram concedidos tão rapidamente e em montantes elevados
pelos bancos oficiais. Não são dificuldades esperadas para este
ano -trata-se de um problema
de lenta maturação.
Nos 30 anos desde o início de
sua abertura econômica a China
já enfrentou bolhas de crédito e
lidou com uma tendência crônica ao excesso de capacidade industrial. Sempre conseguiu resolver esses problemas contando
com o vigor de sua economia e
das exportações. É possível que o
mesmo ocorra novamente, mas
as ameaças agora são maiores.
A dimensão atingida pela economia chinesa implica que pequenas reduções no ritmo de seu
crescimento possam gerar consequências importantes nos
mercados globais, inclusive nos
preços das commodities.
No que se refere ao Brasil, mesmo no atual patamar de preços
de produtos exportados, que é favorável, já se observa uma tendência de alta nos déficits externos para os próximos anos. Uma
deterioração maior deste quadro
comprometeria o próprio crescimento da economia. Cabe ao governo mitigar os riscos, adotando políticas que aplaquem as
pressões de valorização do real e
estimulem as exportações.
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