São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2010

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Riscos da China

Políticas econômicas do país asiático podem acarretar problemas futuros e afetar o próprio crescimento brasileiro

O GRANDE fenômeno da década de 2000 na economia mundial foi a ascensão da China como protagonista de primeira grandeza na produção e nas finanças, com consequências marcantes para o resto do mundo.
Para o Brasil, a influência mais direta se deu por meio das exportações de commodities, que cresceram a ponto de a China ter se tornado em 2009 o maior mercado para as empresas brasileiras.
O impacto da demanda chinesa nos preços das matérias primas foi talvez o principal fator da notável transformação das contas externas brasileiras, o que, por sua vez, abriu caminho para o crescimento.
Uma eventual mudança para pior no quadro da expansão chinesa seria danosa para a economia global e para o Brasil em particular. A China foi o caso mais marcante de superação da crise de 2008. Conseguiu crescer 8,7% no ano passado, enquanto o resto do mundo patinava. Para isso, usou com força máxima os instrumentos de que dispunha: o investimento governamental e o crédito dos bancos públicos.
Para compensar o colapso das exportações, o governo chinês adotou um pacote fiscal equivalente a 16% do PIB, o maior do mundo (em proporção ao tamanho da economia), voltado para investimentos em infraestrutura. Mas, ao contrário da maior parte dos países, que incorreu em deficits fiscais para fazer frente à crise, na China foram os bancos oficiais os principais agentes de estímulo. A expansão do crédito bancário atingiu US$ 1,35 trilhão em 2009, quantia equivalente a nada menos que 30% do PIB.
Ocorre que o próprio sucesso destas políticas na retomada do crescimento traz dúvidas sobre sua sustentação no médio prazo. A principal delas está relacionada à qualidade dos créditos que foram concedidos tão rapidamente e em montantes elevados pelos bancos oficiais. Não são dificuldades esperadas para este ano -trata-se de um problema de lenta maturação.
Nos 30 anos desde o início de sua abertura econômica a China já enfrentou bolhas de crédito e lidou com uma tendência crônica ao excesso de capacidade industrial. Sempre conseguiu resolver esses problemas contando com o vigor de sua economia e das exportações. É possível que o mesmo ocorra novamente, mas as ameaças agora são maiores.
A dimensão atingida pela economia chinesa implica que pequenas reduções no ritmo de seu crescimento possam gerar consequências importantes nos mercados globais, inclusive nos preços das commodities.
No que se refere ao Brasil, mesmo no atual patamar de preços de produtos exportados, que é favorável, já se observa uma tendência de alta nos déficits externos para os próximos anos. Uma deterioração maior deste quadro comprometeria o próprio crescimento da economia. Cabe ao governo mitigar os riscos, adotando políticas que aplaquem as pressões de valorização do real e estimulem as exportações.


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