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Agenda esquecida
Avaliação do Congresso tem pífia melhora; medidas para resgatar a imagem do Legislativo foram abandonadas
PESQUISA DATAFOLHA mostra uma recuperação da
imagem do Congresso
Nacional. Hoje, "apenas"
39% dos eleitores considera
ruim ou péssimo o desempenho
de senadores e deputados federais. Na avaliação anterior, de
novembro, ainda marcada pela
absolvição do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), esse percentual chegava a 45%. Não foi o
fundo do poço. Em agosto de
2005, no auge do escândalo do
mensalão, a marca bateu os 48%.
A melhor hipótese para explicar a pequena reabilitação está
no fato de que, desde o caso Calheiros, o Congresso tem conseguido manter-se longe de confusões, mas não por mérito próprio. Os assuntos que agora galvanizam as atenções do público
-o uso de cartões corporativos e
o dossiê da Casa Civil- dizem
respeito ao Poder Executivo.
Não se pode esperar de entidades que lavam sua roupa suja em
público, caso do Parlamento, que
tenham o prestígio de organizações monolíticas, como as Forças Armadas e a igreja. Levantamento coordenado pelo cientista
político José Alvaro Moisés, da
USP, em junho de 2006, mostrou
que as instituições das quais os
brasileiros mais desconfiavam
eram os partidos políticos (81%)
e o Congresso (76%). Já as que
inspiravam maior confiança
eram o Corpo de Bombeiros
(86,1%), a Igreja Católica (75,3%)
e o Exército (61,4%).
A imagem do Legislativo federal, entretanto, por qualquer parâmetro que se tome, está muito
distante de padrões aceitáveis de
respeitabilidade. A agenda para
resgatar a instituição foi, mais
uma vez, esquecida tão logo a última crise passou.
Uma excelente oportunidade
de retomá-la seria aprovar sem
mais delongas a emenda constitucional que põe fim ao instituto
do voto secreto na cassação de
deputados e senadores acusados
de quebra de decoro. Por razões
fáceis de compreender, mas difíceis de justificar, a tramitação da
proposta não tem avançado.
Também ajudaria muito se o
Congresso cumprisse suas obrigações, aprovando peças legislativas que interessam ao conjunto
do país, como a reforma tributária. O problema é que, além da
complexidade intrínseca da tarefa, o Legislativo já não controla
sua própria pauta, permanentemente trancada pela enxurrada
de medidas provisórias que o governo lhe impinge. Baixar uma
norma que limite a edição de
MPs converte-se assim numa
preliminar necessária.
Sucessivos escândalos demostram que a submissão interessada das maiorias parlamentares
ao desígnio imperial do Planalto
é fonte de instabilidade. Atitudes
básicas de autonomia legislativa
deveriam ser tomadas neste período de "bonança", antes do estouro da próxima crise.
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