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Médicos em falta
A TENTATIVA do governo fluminense de importar pediatras de outros Estados
para atender às crianças contaminadas pelo vírus da dengue dá
bem a medida da desorganização
da medicina pública no país. Faltam pediatras não porque o Rio
de Janeiro não os produza, mas
porque não consegue motivá-los
a trabalhar na rede oficial. Concursos são realizados, mas as vagas não são preenchidas. Essa
tem sido uma constante no país.
A principal causa para o fenômeno são os baixos salários oferecidos por Estados e municípios, que, de forma paradoxal,
não implicam necessariamente
economia de recursos públicos.
Em alguns Estados, para escapar aos baixos salários, médicos
se organizaram em cooperativas
que prestam serviços à rede oficial. Como em muitas dessas regiões quase todos os especialistas se ligaram às cooperativas,
elas adquiriram enorme poder
de negociação. Os salários dos
médicos melhoraram, mas não a
qualidade do serviço.
Ao menos 20% dos 350 mil
médicos brasileiros já estão cooperativados. Em Estados como
Paraíba, Pernambuco, Ceará, Rio
Grande do Norte e Espírito Santo, o poder público já não consegue prestar atendimento médico
sem servir-se dessas entidades.
Em locais como São Paulo, onde as cooperativas não avançaram tanto, há problemas semelhantes. Como os médicos ganham mal, precisam acumular
três ou quatro empregos para assegurar padrão de vida de classe
média. Ocorre que, freqüentemente, o patrão é o mesmo: o poder público. Se o profissional recebesse mais, poderia dedicar-se
a uma única unidade de saúde,
tornando-se mais presente e
propiciando ganhos de qualidade para o sistema.
Para reestruturar o setor é preciso, antes de mais nada, definir
uma política salarial coerente
para os profissionais de saúde. A
proposta do governo federal de
criar fundações estatais de direito privado para administrar os
serviços é um bom começo. Daria liberdade aos gestores, permitindo-lhes pagar mais aos médicos e cobrar-lhes mais, além de
demitir aqueles cujo desempenho é inadequado.
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