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ELIANE CANTANHÊDE
Ouvidos moucos
BRASÍLIA - Ao anunciar o seu pacote de bondades, reduzindo impostos para carros, motos e construção civil, o governo avisou solenemente que intermediara um
acordo entre montadoras e trabalhadores, suspendendo cortes de
vagas. Um legítimo e apropriado toma-lá-dá-cá. Mas...
Bem fez o meu colega Vinicius
Torres Freire, que, logo abaixo da
manchete sobre a redução dos impostos e o tal acordo, já foi logo avisando aos navegantes e ao pessoal
do setor: "Acordo não deve impedir
demissões". Na bucha.
No dia seguinte à boa notícia (da
redução dos impostos), já vinha a
má notícia (da redução de empregos). A Peugeot Citroën alegou uma
queda de 30% nas exportações de
veículos e demitiu cerca de 250 dos
700 funcionários de sua fábrica no
Estado do Rio.
A medida foi justamente entre o
anúncio, na segunda, e a entrada em
vigor, ontem, do acordo e da prorrogação do IPI reduzido. E o Ministério da Fazenda saiu-se com essa: "O
governo não pode obrigar as montadoras a não demitirem".
Se não pode, porque anunciou o
acordo? Aliás, o acordo existe ou
não? Por vias das dúvidas (e quantas dúvidas), a Fazenda fez um ligeiro ajuste na retórica. Não foi propriamente um acordo, foi só "um
acordo de cavalheiros". Ah, bom!
Fica o dito pelo não dito, e cada
um faz o que bem entende. A redução de tributos, parcialmente compensada pelo aumento do IPI e da
Cofins sobre cigarros, visa aquecer
a economia e manter aquecidas a
popularidade de Lula e a candidatura Dilma.
Se esqueceram do tal acordo, não
se devem esquecer da nítida sincronia entre o nível de emprego e o índice de Lula nas pesquisas. Cai um,
cai o outro. O pacote de bondades é
bem-vindo, mas, para se encaixar
igualmente bem no formato político e no econômico, é preciso antes
de mais nada garantir os empregos.
Senão não tem mesmo acordo.
elianec@uol.com.br
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