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Difícil recuperação
Garantia de apoio à Grécia alivia pressões sobre o euro, mas problemas estruturais na União Europeia persistem
A NOTÍCIA de que Alemanha
e França entraram em
acordo na semana passada para fornecer apoio financeiro à endividada Grécia deve ser
suficiente, por ora, para interromper o movimento de queda
do euro em relação ao dólar.
Persistem, porém, sérias dúvidas quanto às reais possibilidades de a economia da Europa
crescer de maneira contínua e
significativa nos próximos anos.
A crise financeira na periferia
da zona do euro -que inclui, entre outros, Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha- tem origem
em administrações pouco responsáveis das finanças públicas
e ausência de controles eficientes sobre o endividamento de
empresas, famílias e governos.
Por anos, os mercados financeiros bancaram desequilíbrios
de balança comercial e deficit
públicos nesses países, associados a um padrão de consumo incompatível com a real capacidade produtiva de suas economias.
Na outra ponta dessa história
atuou a Alemanha, potência econômica cujos persistentes superavit comerciais se explicam, em
boa parte, justamente pela demanda das nações menos ricas
do bloco -e pela permissividade
de suas políticas econômicas.
É consenso que a superação
dessa crise não será possível apenas com a adoção de medidas
que ajustem os padrões de consumo dos setores público e privado das nações endividadas. Será preciso também aumentar sua
capacidade de exportação para
compensar os efeitos do ajuste
interno, que afetará as receitas
das empresas e dos governos.
O problema é que, na prática,
será muito difícil para essas economias aumentar suas vendas
externas sem maior consumo
dentro da zona do euro. Medidas
amargas como redução de benefícios trabalhistas podem aumentar sua competitividade,
mas se não houver demanda, os
sacrifícios tendem a ser em vão.
A recuperação da Europa parece pressupor uma inversão da
posição superavitária da Alemanha dentro do bloco continental.
Mas o perfil essencialmente conservador da população em relação ao consumo sugere que tal
mudança requer a expansão dos
gastos do governo.
No atual cenário de desequilíbrio das contas públicas alemãs,
acentuado pelos gastos decorrentes do combate à crise econômica, esse caminho envolve o difícil desafio de convencer mercados e eleitores de que um aumento adicional das despesas do
Estado alemão pode ser necessário para sustentar a recuperação.
O prolongamento das dificuldades econômicas na Europa
afeta o Brasil de várias formas,
mas uma dimensão particularmente importante é a do comércio exterior. Em 2009, as exportações brasileiras para os principais países da UE representaram
quase 20% do total.
Não é pouco, considerando
que o calcanhar de Aquiles do desempenho econômico brasileiro
nos próximos anos poderá estar
na dificuldade de o país manter
seus saldos comerciais.
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