São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2010

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Difícil recuperação

Garantia de apoio à Grécia alivia pressões sobre o euro, mas problemas estruturais na União Europeia persistem

A NOTÍCIA de que Alemanha e França entraram em acordo na semana passada para fornecer apoio financeiro à endividada Grécia deve ser suficiente, por ora, para interromper o movimento de queda do euro em relação ao dólar.
Persistem, porém, sérias dúvidas quanto às reais possibilidades de a economia da Europa crescer de maneira contínua e significativa nos próximos anos.
A crise financeira na periferia da zona do euro -que inclui, entre outros, Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha- tem origem em administrações pouco responsáveis das finanças públicas e ausência de controles eficientes sobre o endividamento de empresas, famílias e governos.
Por anos, os mercados financeiros bancaram desequilíbrios de balança comercial e deficit públicos nesses países, associados a um padrão de consumo incompatível com a real capacidade produtiva de suas economias.
Na outra ponta dessa história atuou a Alemanha, potência econômica cujos persistentes superavit comerciais se explicam, em boa parte, justamente pela demanda das nações menos ricas do bloco -e pela permissividade de suas políticas econômicas.
É consenso que a superação dessa crise não será possível apenas com a adoção de medidas que ajustem os padrões de consumo dos setores público e privado das nações endividadas. Será preciso também aumentar sua capacidade de exportação para compensar os efeitos do ajuste interno, que afetará as receitas das empresas e dos governos.
O problema é que, na prática, será muito difícil para essas economias aumentar suas vendas externas sem maior consumo dentro da zona do euro. Medidas amargas como redução de benefícios trabalhistas podem aumentar sua competitividade, mas se não houver demanda, os sacrifícios tendem a ser em vão.
A recuperação da Europa parece pressupor uma inversão da posição superavitária da Alemanha dentro do bloco continental. Mas o perfil essencialmente conservador da população em relação ao consumo sugere que tal mudança requer a expansão dos gastos do governo.
No atual cenário de desequilíbrio das contas públicas alemãs, acentuado pelos gastos decorrentes do combate à crise econômica, esse caminho envolve o difícil desafio de convencer mercados e eleitores de que um aumento adicional das despesas do Estado alemão pode ser necessário para sustentar a recuperação.
O prolongamento das dificuldades econômicas na Europa afeta o Brasil de várias formas, mas uma dimensão particularmente importante é a do comércio exterior. Em 2009, as exportações brasileiras para os principais países da UE representaram quase 20% do total.
Não é pouco, considerando que o calcanhar de Aquiles do desempenho econômico brasileiro nos próximos anos poderá estar na dificuldade de o país manter seus saldos comerciais.


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