São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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O DIA DO NÃO

Foi maciça e pacífica a manifestação que marcou o 1º de Maio na França. Substituindo a apatia que marcara o espaço público francês até o primeiro turno das eleições presidenciais, uma multidão estimada em mais de 1 milhão de pessoas saiu às ruas em todo o país para dizer um sonoro "não" a Jean-Marie Le Pen. O candidato da ultradireitista Frente Nacional disputa, no próximo domingo, o segundo turno do pleito contra o atual presidente francês, Jacques Chirac.
O megaprotesto de ontem, Dia do Trabalho, não foi ato isolado, apenas o ponto culminante de um processo de tomada coletiva de posição. Desde o dia 21 de abril, quando se soube que Le Pen estava qualificado para o turno final das eleições presidenciais, a presença de multidões nas ruas francesas foi uma constante. O destaque ficou por conta da juventude -principalmente estudantes secundaristas-, que liderou boa parte das marchas.
Uma democracia adormecida -que não se permite renovar, que não se deixa permear pelas realidades sociais emergentes- corre riscos. O ensimesmamento do sistema representativo e a indiferenciação das plataformas partidárias são dois dos fatores que permitiram a ascensão de Le Pen na França. O ultradireitista, cuja doutrina é tributária do fascismo europeu da primeira metade do século 20, provavelmente não estaria no segundo turno se a abstenção eleitoral não tivesse atingido níveis recordes no primeiro turno.
É um bom sinal que a população francesa tenha despertado da catatonia cívica. Mas, por enquanto, a união que se vê na França é construída tão-somente pela identificação de um inimigo comum. Dizer "não" ao líder da Frente Nacional, embora importante, é apenas a parte mais fácil da tarefa de reconstruir a representatividade política numa das pátrias da democracia moderna. Os resultados das eleições legislativas, em junho, serão o primeiro grande teste para saber se o episódio Le Pen deu ensejo à necessária renovação do sistema partidário na França.



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