|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRANSPARÊNCIA OPACA
Um dos princípios basilares da
democracia é o de que quase
tudo o que diz respeito ao Estado deve ser marcado pela transparência.
Não se espera, evidentemente, que
todas as decisões do Banco Central
sejam previamente discutidas na internet nem que os serviços secretos
abram sua folha de pagamento ao
escrutínio da população. Ainda assim, a publicidade deve ser a tônica
geral, permanecendo como exceções
umas poucas atividades que podem
ser contadas nos dedos.
Felizmente já estão longe os tempos em que se realizavam julgamentos secretos, em que até o próprio réu
ignorava as acusações que pesavam
contra ele. Mas o nível de transparência nas ações do poder público ainda
deixa muito a desejar. Para citar um
exemplo do noticiário recente, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) não divulga
os dados detalhados do processo de
reforma agrária, dificultando o seu
acompanhamento pelo público.
De modo análogo, o cidadão comum tem seu acesso ao Siafi, o sistema informatizado de acompanhamento dos gastos do governo federal, vetado. Apenas parlamentares
têm pleno trânsito por essa rede.
Uma vez que o Siafi já existe e está
plenamente implantado, não há justificativa plausível para o fato de não
estar disponível a toda a população.
A falta de publicidade nas execuções orçamentárias está longe de ser
uma exclusividade da esfera federal.
As dificuldades para o efetivo acompanhamento dos gastos públicos se
reproduzem também nos planos estadual e municipal.
Seria, por certo, injustiça afirmar
que o Brasil não avançou nesse campo. Hoje é possível acompanhar as
atividades de vários corpos legislativos pela TV e participar de consultas
públicas pela internet, mas isso ainda está longe do ideal.
Enquanto prevalecer a noção de
que a população não precisa ou não
deve participar plenamente da vida
pública, o Brasil permanecerá sendo
uma democracia incompleta.
Texto Anterior: Editoriais: O DIA DO NÃO Próximo Texto: Editoriais: A TRÍPLICE FRONTEIRA Índice
|