São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Não é granada por granada

BRASÍLIA - Os bandidos do Rio de Janeiro não são uns bandidinhos quaisquer. Dispõem de granadas iguais às da Aeronáutica e de minas terrestres iguais às do Exército, dessas que arrancam pernas e vidas de milhões na África e na América Central, por exemplo.
Se eles têm tudo isso, o que têm os pais, mães e filhos que precisam morar, trabalhar, ir à escola, namorar, caminhar, andar de carro e de ônibus? Têm medo.
É incompreensível que bandidos tenham granadas e minas para usar a qualquer hora, contra quem bem entenderem, enquanto Exército, Marinha e Aeronáutica têm homens, armas e experiência (além das mesmas granadas e minas), mas só para usar em treinamento de militares que não guerreiam. Quase por diletantismo, já que há décadas não há guerras e não há nenhuma guerra à vista.
No governo Lula, de esquerda, reunindo conhecidos ex-perseguidos e até alguns ex-torturados do regime militar, trata-se de uma discussão complexa. Mas, enquanto uns discutem, outros planejam. Na hora em que a voz política mandar, as bases militares não só farão continência como estarão prontas a atuar.
Em especial dois batalhões de elite: o de Operações Especiais, no próprio Rio, e o de Infantaria Pára-Quedista, em Goiânia. Entre outras coisas, seus 5.600 homens têm maior treinamento em áreas urbanas e são majoritariamente profissionais, não recrutas.
Lula, os ministros José Viegas e Márcio Thomaz Bastos e os governadores Garotinho vêm discutindo tudo isso desde o ano passado e têm, cada um, seguido direitinho o script. Partiu dos governadores, por exemplo, o pedido oficial e público. Agora, cabe a Lula responder com uma proposta prática. Ela virá em 10 de maio.
Depois disso, os bandidos do Rio que se cuidem. Não se trata de "olho por olho, dente por dente", nem de mina por mina, granada por granada. Trata-se, apenas, de ação moral de dissuasão e de o Estado garantir segurança e vida a uma população em permanente estado de risco.


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