|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Conversa de botequim
SÃO PAULO - O governo Lula da Silva ora passa do estágio de degradação que causa revolta àquele mais
deprimente e pernicioso, que provoca
cinismo aberto e desesperado. Mas
pior ainda que Lula é o burburinho
pantanoso do horizonte visível da vida e debates públicos brasileiros.
O ponto alto da tolice do ano continua a MP 232, que aumentava impostos vários. Do PFL aos pelegos de
CUT e Força, passando por intelectuais públicos, na maioria economistas neobobos, ouviu-se que a sociedade deu um "basta ao Estado". Que sociedade? A sociedade brasileira real:
pessoas retratadas em novelas da
Globo, que tomam café da manhã
com suco de laranja, "fazem compras", e em que "pobres" vivem em
casas próprias de dois ou mais quartos. O resto é escória mesmo. A "sociedade", classe média e alta, uns 5% da
população, não quer pagar mais imposto. Foi só isso que se passou.
O PFL, dos liberais filhotes da ditadura, sob FHC ajudou a aumentar a
arrecadação federal em 40% por
meio dos piores impostos. O que mais
subiu sob FHC não foi imposto de
renda, mais justo e racional, mas o
imposto indireto, que encarece a vida
do povaréu e o faz viver de bico. Economistas neobobos babavam nos calcanhares de FHC e então não reclamavam de impostos. Gentalha.
O mais recente disparate do presidente, em um seu papel predileto, o
boquirroto de botequim, suscitou
apenas a chorumela inconseqüente
de sempre contra juros.
Se, por mágica, os juros nos bancos
caíssem hoje pela metade, o Banco
Central teria de dar um choque brutal de juros básicos na economia então inundada de crédito.
Decerto a política monetária do BC
é hoje perniciosa e exagerada. Mas a
questão dos juros altos no Brasil é algo muito mais sério que as macumbas receitadas contra banqueiros e as
mezinhas de controles de preços. Saímos da hiperinflação quase por mágica, mas defeitos estruturais de economia e sociedade do país da inflação reapareceram agora sob a forma
de hiperjuros. E o fato de sermos uma
economia de mercado torto, de injustiça monstruosa e conservadorismo
visceral tem muito a ver com isso.
Texto Anterior: Editoriais: CAOS PUBLICITÁRIO Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: PT e PMDB, unha e carne Índice
|