São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2006

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INSTRUÇÃO CASTIGADA

Esqueçam-se as homenagens à falta de instrução vez ou outra prestadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Grave é a economia brasileira estar levando o princípio à prática. De 2002 para cá, os trabalhadores mais punidos com a perda do poder de compra têm sido os que mais anos de sua vida dedicaram aos estudos. Tomando por bases esses dados, pode restar a mensagem de que instruir-se não é o caminho para melhorar o padrão de vida.
Em média e descontada a inflação, para cada R$ 100 que um trabalhador brasileiro com pelo menos 11 anos de estudo formal dispunha em março de 2002, restam-lhe hoje R$ 87,30. Essa categoria, dos que concluíram ao menos o ensino médio, foi a que mais perdeu renda no quadriênio. A pesquisa, do IBGE, avaliou as seis principais regiões metropolitanas -onde se concentram os postos de trabalho mais qualificados.
O caso brasileiro é anômalo, como qualificou o economista Marcio Pochmann. Nações em franco desenvolvimento não só ampliam o emprego qualificado como vão buscar cérebros no exterior, deslanchando uma acirrada competição global por profissionais de elite. O resultado é a elevação -e não a queda, como ocorre no Brasil- dos salários nessa fatia da população ocupada.
A Irlanda, por exemplo, nação européia cuja industrialização tem sido acelerada nos últimos anos, por conta da necessidade de atrair mão-de-obra qualificada viu a proporção de imigrantes em sua população passar de 6,3% para 10,9% (aumento superior a 70%) de 1990 a 2000. A fatia dos trabalhadores "importados" mais escolarizados triplicou no período.
Mas o Brasil, se não mudar seu padrão de desenvolvimento, estará fadado a figurar com destaque na estatística dos exportadores de cérebros, um índice de subdesenvolvimento. Para evitar esse destino, não há saída senão incentivar os investimentos em atividades de ponta, lançando-se -entre outras estratégias como a melhora do ambiente geral para os negócios- na competição global pela instalação de novas plantas de empresas multinacionais.


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