|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
É guerra!
BRASÍLIA - Evo Morales foi aliado do governo Lula durante sua campanha
à Presidência da Bolívia, começou a
botar as manguinhas de fora quando
se tornou nitidamente favorito e,
agora, sentindo-se firme no cargo,
passou ao ataque aberto.
Primeiro, Morales apoiou o forte
aumento da carga tributária das empresas estrangeiras, o que atingiu a
Petrobras em cheio. Mas o Planalto, o
Itamaraty e a empresa entenderam.
Afinal, a Bolívia perdeu todas as
guerras em que se meteu e vem sendo
espoliada desde sempre.
Depois, Morales assumiu e foi logo
mudando as leis ambientais que afetam as empresas e passou a discutir a
nacionalização da área petrolífera
-o forte da Bolívia. O sinal amarelo
começou a piscar no Brasil. Mesmo
assim, o discurso continuou sendo de
aceitação e defesa.
Agora, Morales expulsa a EBX, do
empresário Eike Baptista, que estava
construindo quatro fornos de ferro-gusa e criando seis mil empregos no
país. E, ontem, passou da ameaça à
ação contra a Petrobras: assinou decreto expropriando na prática metade das refinarias, botou o Exército
nas instalações da empresa brasileira
e aumentou as tarifas em 82% (a previsão era de 50%).
Evo Morales assumiu uma atitude
mais do que temerária. Não quer
parceiros nem quer negociar. Simplesmente abriu guerra, contando
com sua força interna para bombardear os aliados potenciais externos.
A posição do Brasil ainda era confusa ontem, com Lula em campanha,
Amorim negociando em Genebra e
Gabrielli (da Petrobras) em Nova
York. A área técnica quer abrir as baterias e reagir. A área política e diplomática está cheia de dedos.
Não dá para não reagir, mas também não dá para dispensar o gás boliviano nem para massacrar o indígena Morales e o país mais pobre da
América do Sul. Iria contra a essência
da política externa brasileira.
"Quem pariu Matheus que o embale." Quem ajudou a eleger Morales
que o suporte. Antes que caia.
@ - elianec@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Um JK para a educação? Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: As faces de Macunaíma Índice
|