São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

É guerra!

BRASÍLIA - Evo Morales foi aliado do governo Lula durante sua campanha à Presidência da Bolívia, começou a botar as manguinhas de fora quando se tornou nitidamente favorito e, agora, sentindo-se firme no cargo, passou ao ataque aberto.
Primeiro, Morales apoiou o forte aumento da carga tributária das empresas estrangeiras, o que atingiu a Petrobras em cheio. Mas o Planalto, o Itamaraty e a empresa entenderam. Afinal, a Bolívia perdeu todas as guerras em que se meteu e vem sendo espoliada desde sempre.
Depois, Morales assumiu e foi logo mudando as leis ambientais que afetam as empresas e passou a discutir a nacionalização da área petrolífera -o forte da Bolívia. O sinal amarelo começou a piscar no Brasil. Mesmo assim, o discurso continuou sendo de aceitação e defesa.
Agora, Morales expulsa a EBX, do empresário Eike Baptista, que estava construindo quatro fornos de ferro-gusa e criando seis mil empregos no país. E, ontem, passou da ameaça à ação contra a Petrobras: assinou decreto expropriando na prática metade das refinarias, botou o Exército nas instalações da empresa brasileira e aumentou as tarifas em 82% (a previsão era de 50%).
Evo Morales assumiu uma atitude mais do que temerária. Não quer parceiros nem quer negociar. Simplesmente abriu guerra, contando com sua força interna para bombardear os aliados potenciais externos.
A posição do Brasil ainda era confusa ontem, com Lula em campanha, Amorim negociando em Genebra e Gabrielli (da Petrobras) em Nova York. A área técnica quer abrir as baterias e reagir. A área política e diplomática está cheia de dedos.
Não dá para não reagir, mas também não dá para dispensar o gás boliviano nem para massacrar o indígena Morales e o país mais pobre da América do Sul. Iria contra a essência da política externa brasileira.
"Quem pariu Matheus que o embale." Quem ajudou a eleger Morales que o suporte. Antes que caia.

@ - elianec@uol.com.br


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