São Paulo, quarta-feira, 02 de maio de 2007

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RUY CASTRO

"Ungáua!"

RIO DE JANEIRO - Outro dia, para abonar uma suspeita sobre certo estilo do governo Lula, fui consultar as obras completas de Tarzan por Johnny Weissmuller no cinema. Pensava ver apenas um ou dois filmes, mas acabei assistindo aos 12 -seis da MGM, seis da RKO-, feitos entre 1932 e 1948, e todos lançados em DVD. Além de ter muito prazer, descobri o que procurava: o significado da palavra "Ungáua!".
Não se sabe de onde vem, nem a que língua pertence. Mas era o que Tarzan dizia para a macaca Chita, para o elefante Timba e para qualquer animal da selva a quem desse uma ordem.
"Ungáua!", sempre com exclamação, servia para tudo: de um genérico "vamos lá, macacada!" até instruções específicas, como dizer ao Timba para levantar uma árvore que caíra sobre o Boy, ou à Chita que jogasse um cipó para ele, Tarzan, escalar o rochedo, ou que fosse fazer cafuné na Jane.
Em qualquer uma de suas 1.001 utilidades, "Ungáua!" era imediatamente entendida, sem que Tarzan precisasse dar inflexões diferentes à voz. Os bichos faziam o que lhes era exigido, e não havia dúvida quanto a isso, porque a câmera mostrava. A platéia via.
Tática parecida é adotada pelo presidente Lula. Ele não tem uma palavra mágica como "Ungáua!", mas usa um discurso tão incisivo quanto. A qualquer problema que se apresente, dá uma ordem ao respectivo bicho, digo ministro, mandando-o promover o espetáculo do crescimento, levar a saúde perto da perfeição, eliminar o desemprego, acabar com os apagões aéreos, alfabetizar o país ou o que for.
A diferença é que esses ministros ouvem a ordem e, se a executam, as câmeras não mostram. Ninguém vê nada. É possível que eles não entendam o presidente, daí que as palavras não se convertam em atos. Talvez não seja tarde para Lula adotar o "Ungáua!".


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