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RUY CASTRO
"Ungáua!"
RIO DE JANEIRO - Outro dia, para abonar uma suspeita sobre certo
estilo do governo Lula, fui consultar as obras completas de Tarzan
por Johnny Weissmuller no cinema. Pensava ver apenas um ou dois
filmes, mas acabei assistindo aos 12
-seis da MGM, seis da RKO-, feitos entre 1932 e 1948, e todos lançados em DVD. Além de ter muito
prazer, descobri o que procurava: o
significado da palavra "Ungáua!".
Não se sabe de onde vem, nem a
que língua pertence. Mas era o que
Tarzan dizia para a macaca Chita,
para o elefante Timba e para qualquer animal da selva a quem desse
uma ordem.
"Ungáua!", sempre com exclamação, servia para tudo: de um genérico "vamos lá, macacada!" até instruções específicas, como dizer ao
Timba para levantar uma árvore
que caíra sobre o Boy, ou à Chita
que jogasse um cipó para ele, Tarzan, escalar o rochedo, ou que fosse
fazer cafuné na Jane.
Em qualquer uma de suas 1.001
utilidades, "Ungáua!" era imediatamente entendida, sem que Tarzan
precisasse dar inflexões diferentes
à voz. Os bichos faziam o que lhes
era exigido, e não havia dúvida
quanto a isso, porque a câmera
mostrava. A platéia via.
Tática parecida é adotada pelo
presidente Lula. Ele não tem uma
palavra mágica como "Ungáua!",
mas usa um discurso tão incisivo
quanto. A qualquer problema que
se apresente, dá uma ordem ao respectivo bicho, digo ministro, mandando-o promover o espetáculo do
crescimento, levar a saúde perto da
perfeição, eliminar o desemprego,
acabar com os apagões aéreos, alfabetizar o país ou o que for.
A diferença é que esses ministros
ouvem a ordem e, se a executam, as
câmeras não mostram. Ninguém vê
nada. É possível que eles não entendam o presidente, daí que as palavras não se convertam em atos.
Talvez não seja tarde para Lula
adotar o "Ungáua!".
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