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O fator Wright
ATÉ POUCOS dias atrás, a indicação de Barack Obama
para disputar a Presidência dos EUA pelo Partido Democrata parecia bem provável. Talvez apenas Hillary Clinton ainda
contasse com algo que pudesse
provocar uma reviravolta nos rumos das prévias. É possível que
um evento dessas proporções tenha ocorrido.
O protagonista do episódio é
Jeremiah Wright, pastor que nos
últimos 20 anos foi guia espiritual de Obama. Wright levou o
postulante democrata ao cristianismo, celebrou seu casamento e
batizou suas filhas. Nesta semana, o pastor deu declarações que,
se não custaram a Presidência a
Obama, dificultaram sua batalha
pela indicação partidária.
Wright não só reafirmou algumas de suas frases mais bombásticas como disse que Obama concorda com ele em tudo, mas esconde suas verdadeiras opiniões
para não prejudicar a carreira
política. E Wright costuma proferir opiniões controvertidas, como dizer que os EUA "atraíram
para si" o 11 de Setembro, ou delirantes, como afirmar que o vírus
da Aids foi desenvolvido pelo governo norte-americano para dizimar os negros.
O tamanho do estrago pode ser
vislumbrado por meio de uma
pesquisa do jornal "The New
York Times". Há um mês, 69%
dos eleitores democratas esperavam a vitória de Obama nas prévias. Anteontem, após o "affair
Wright", esse número baixou para 51% -uma impressionante
queda de 18 pontos percentuais.
Uma avaliação mais concreta
precisará esperar até a próxima
terça-feira, quando se realizam
primárias nos Estados de Carolina do Norte e Indiana, nos quais
Obama era o favorito.
É provável que o pré-candidato ainda reúna forças para garantir a indicação democrata. Ele
conserva uma ponderável vantagem de 140 delegados sobre Hillary e reagiu com firmeza à investida do pastor. Convocou
uma entrevista coletiva na qual
se disse "profundamente indignado" com as declarações de
Wright e praticamente anunciou
o rompimento de relações com o
clérigo -o que até então vinha
evitando fazer.
O dano, de toda maneira, deixará marcas. Na melhor das hipóteses, Obama poderá ser acusado de não saber a quem se associa (falha grave num presidente); na pior, de ser um extremista
e ainda por cima um tartufo.
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