São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2008

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O fator Wright

ATÉ POUCOS dias atrás, a indicação de Barack Obama para disputar a Presidência dos EUA pelo Partido Democrata parecia bem provável. Talvez apenas Hillary Clinton ainda contasse com algo que pudesse provocar uma reviravolta nos rumos das prévias. É possível que um evento dessas proporções tenha ocorrido.
O protagonista do episódio é Jeremiah Wright, pastor que nos últimos 20 anos foi guia espiritual de Obama. Wright levou o postulante democrata ao cristianismo, celebrou seu casamento e batizou suas filhas. Nesta semana, o pastor deu declarações que, se não custaram a Presidência a Obama, dificultaram sua batalha pela indicação partidária.
Wright não só reafirmou algumas de suas frases mais bombásticas como disse que Obama concorda com ele em tudo, mas esconde suas verdadeiras opiniões para não prejudicar a carreira política. E Wright costuma proferir opiniões controvertidas, como dizer que os EUA "atraíram para si" o 11 de Setembro, ou delirantes, como afirmar que o vírus da Aids foi desenvolvido pelo governo norte-americano para dizimar os negros.
O tamanho do estrago pode ser vislumbrado por meio de uma pesquisa do jornal "The New York Times". Há um mês, 69% dos eleitores democratas esperavam a vitória de Obama nas prévias. Anteontem, após o "affair Wright", esse número baixou para 51% -uma impressionante queda de 18 pontos percentuais. Uma avaliação mais concreta precisará esperar até a próxima terça-feira, quando se realizam primárias nos Estados de Carolina do Norte e Indiana, nos quais Obama era o favorito.
É provável que o pré-candidato ainda reúna forças para garantir a indicação democrata. Ele conserva uma ponderável vantagem de 140 delegados sobre Hillary e reagiu com firmeza à investida do pastor. Convocou uma entrevista coletiva na qual se disse "profundamente indignado" com as declarações de Wright e praticamente anunciou o rompimento de relações com o clérigo -o que até então vinha evitando fazer.
O dano, de toda maneira, deixará marcas. Na melhor das hipóteses, Obama poderá ser acusado de não saber a quem se associa (falha grave num presidente); na pior, de ser um extremista e ainda por cima um tartufo.


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