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CLÓVIS ROSSI
Miçangas e felicidade
SÃO PAULO - E a pátria foi dormir
feliz ao ganhar a miçanga dos novos
colonizadores, o tal de "investment
grade".
Por novos colonizadores entenda-se esse formidável mundo financeiro e suas entidades, incapazes de
antever riscos nas hipotecas "subprime", mas nem por isso julgadas
menos aptas a determinar que países estão "limpos" e que países devem continuar tratamento.
Nada contra a festa pelo rótulo.
Tudo contra deixar de ter a correta
perspectiva. O que a miçanga ora
concedida mede é apenas o risco
que correm os investidores ao colocar dinheiro no Brasil. Não mede,
portanto, o risco que correm os cidadãos do país em seu cotidiano ou
em seu futuro.
Não mede, por exemplo, que o
Brasil "perdeu a guerra" contra a
dengue, como admite o ministro da
Saúde, José Gomes Temporão. "No
problem", dirão os avaliadores de
risco, dado que não se conhece nenhum caso de investidor que tenha
contraído a doença.
Não mede, por exemplo, o risco
de sair às ruas de São Paulo, do Rio
ou de Belo Horizonte, superior ao
de incontáveis outras cidades de
países não "investiment grade".
Não mede, por exemplo, cenas
explícitas de estupidez verbal, como a do coordenador dos cursos de
medicina da Universidade Federal
da Bahia, ao dar a seus conterrâneos o grau CCC-de inteligência,
incapazes até de tocar berimbau se
berimbau tivesse mais de uma corda. E nada acontece.
Não mede, por exemplo, a inconveniência de o presidente da República avalizar o mau uso do dinheiro
público no caso do governador do
Ceará, que gastou R$ 383 mil para
alugar um jatinho, quantia que daria para comprar 30 passagens em
classe executiva São Paulo/Paris/
São Paulo, ao preço mais alto constante ontem no site da Air France
(taxas incluídas).
Até quando o Brasil ficará feliz
com miçangas?
crossi@uol.com.br
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