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CLÓVIS ROSSI
Questão social, questão policial
SÃO PAULO - Era uma vez uma
certeza: as obscenas pobreza e desigualdade brasileiras eram as principais responsáveis pela igualmente
obscena violência urbana.
Aí, veio uma expressiva redução
da pobreza. Veio também uma queda na desigualdade entre assalariados, embora não tenha caído a brecha mais importante e mais espetacular, que é entre rendimento do
capital e rendimento do trabalho.
Mas, como pobre só vê os muito
ricos na televisão e nas revistas, o
fato de ter diminuído a distância
entre os que se cruzam todos os dias
nas ruas só pode ter contribuído para reduzir igualmente a sensação de
marginalidade.
Logo, a conclusão inescapável é a
de que diminuiu a violência urbana,
certo? Errado, mostram as estatísticas que esta Folha divulgou ontem, relativas justamente a um período (primeiro trimestre de 2010)
em que a economia está bastante
aquecida e, por extensão, aquece almas e corações de pobres e classe
média (ricos nunca passaram frio,
nem na idade do gelo na economia).
Aumentaram os homicídios, os
roubos a bancos e os sequestros,
talvez as categorias de crime que
mais afetam o ânimo da população.
Ainda mais que, onde melhorou
(roubos e latrocínios, por exemplo), os números são ainda inaceitavelmente altos.
É fatal concluir que a questão social continua sendo relevante, como é óbvio, mas não pode ser tomada como a única nem a principal
causa da violência.
Há também uma questão policial, de que dá prova o Rio de Janeiro: a violência, que aumentava mesmo nos anos de queda da pobreza,
só se reduziu com as UPPs -Unidade de Polícia Pacificadora-, que
recuperaram territórios antes dominados pela delinquência.
Tomara que neste ano, de eleições também estaduais, esse duplo
enfoque passe a fazer parte do discurso dos candidatos.
crossi@uol.com.br
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