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CARLOS HEITOR CONY
O diabo no espaço
RIO DE JANEIRO - Consta que
um astronauta, numa dessas naves
tripuladas que passeiam pelo espaço, enquanto seus colegas, obedecendo aos horários da base de
Houston, dormiam em complicados leitos, montava guarda na cabine e viu o Diabo, sem a ajuda de nenhum equipamento, apenas com
seus chifres, rabo e pés fendidos, caminhando pelo cosmos, aparentemente procurando alguma coisa.
Sabendo que o Pai das Trevas,
desde o início do mundo, domina
uma boa tecnologia, o astronauta
tentou comunicar-se com ele. Para
sua surpresa, o Diabo entrou na faixa sonora da cabine e os dois conversaram. O diálogo está nos arquivos secretos da Nasa, esperando hora propícia para divulgação.
Após considerações gerais sobre
os destinos da humanidade, o astronauta quis saber do destino do próprio Diabo, o que ele fazia ali sozinho, aparentemente perdido no espaço, desorientado e deprimido.
Apesar de ser considerado o inventor da mentira, o Diabo falou a
verdade. Estava deixando o planeta
Terra, onde, desde a revolta dos anjos, antes da criação do mundo, decidira implantar o mal e a desgraça
na obra de Deus.
O astronauta quis saber a razão
de tão humilhante retirada. Seria
uma derrota diante das forças do
bem? Nada disso, informou o Diabo. Ele ia embora da Terra porque
sua atividade tornara-se supérflua
com o advento da internet e do
Twitter.
Procurava agora um planeta em
estágio tecnológico menos adiantado, sem um tipo de comunicação
onde qualquer um pode fazer um
estrago bem maior do que ele na comunidade internacional e na vida
de cada um. Disse ainda que, com a
vulgaridade das informações e comunicações, ao mesmo tempo em
que tudo devia ficar melhor, a tendência será complicar cada vez
mais a já complicada humanidade.
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