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EMÍLIO ODEBRECHT
Os novos imigrantes
NAS CLASSIFICAÇÕES internacionais dos países pelos
seus indicadores econômicos, somos hoje, de acordo com dados da ONU, a segunda maior economia das Américas -atrás dos
EUA e à frente do Canadá e do México- e donos do décimo maior
parque industrial do planeta. Tais
condições colocam sobre a mesa
desafios que teremos de dar conta.
Desejo, hoje, deter-me sobre um
deles em especial: a inevitável atração que isso pode exercer sobre as
populações de outras nações do
continente.
Movimentos migratórios rumo
ao Brasil não são uma novidade.
Entre fins do século 19 e início do
século 20, nosso país acolheu muita gente vinda da Europa, do
Oriente Médio e da Ásia. Eu próprio sou descendente de uma família de alemães que aqui chegou em
1856.
Muitos prosperaram, e todos deram a sua contribuição para o progresso brasileiro. Mas eram outros
tempos. Tínhamos então um país
agrícola, de industrialização incipiente, relativamente pouco habitado e havia estímulo governamental para que estrangeiros para cá
viessem.
Agora, o Brasil ostenta uma economia pujante e diversificada e pode transformar-se na possibilidade
mais concreta de melhoria de condições de vida para muitos latino-americanos.
Embora timidamente, isso já
vem ocorrendo. E, para ficarmos
em apenas um exemplo, sabe-se
que a cidade de São Paulo abriga
milhares de bolivianos que trabalham na indústria têxtil.
Muitos
vieram sozinhos e depois foram
buscar as famílias, numa demonstração de que aqui conseguiram
melhores condições de vida se
comparadas às que tinham em seu
país.
Ocorre que receber imigrantes
de países vizinhos não será problema, desde que saibamos integrar
tais pessoas, de forma estruturada
e responsável, à nossa sociedade.
Entendo que devemos enxergar
essa tendência de forma positiva. A
integração latino-americana é benéfica a todos, e cabe ao Brasil liderá-la.
Acolher trabalhadores da região é um dos pressupostos dessa
liderança. Atrair imigrantes é característica de nações ricas, ou em
vias de enriquecer, como é o nosso
caso.
O que não pode acontecer, por
imprevidência nossa, é a transformação de um fenômeno dessa natureza -que me parece inexorável- em um drama social como o
vivido hoje pelos países europeus.
A permanência ilegal no país,
que exclui e marginaliza, poderá
ser evitada se desde já nos prepararmos, mediante políticas e legislação adequadas, para tratar o imigrante com respeito e justiça, de
modo que se sinta aqui não um pária, mas um cidadão consciente de
que tem direitos e deveres como
cada um dos brasileiros.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.
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