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Novo comando
Enfrentar o PCC exige um horizonte de ações além da atual gestão paulista; objetivo imediato é
evitar outra crise
A
NOMEAÇÃO do procurador de Justiça e ex-policial militar Antônio
Ferreira Pinto para a
Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo poderá
atender ao interesse imediato do
governo, que é percorrer os sete
meses que restam de mandato
sem ter de enfrentar uma nova
crise com o PCC. Dificilmente
significará, porém, a solução para o gravíssimo problema de segurança pública do Estado, no
qual a questão penitenciária desempenha papel de relevância.
Não se colocam em questão os
méritos de Ferreira Pinto, que já
foi secretário-adjunto da pasta
entre abril de 1993 e julho de
1995, nas gestões dos ex-governadores Luiz Antônio Fleury Filho e Mário Covas. O novo titular
assume o posto com um discurso
duro, oportuno neste momento.
A questão, entretanto, é que
enfrentar o PCC de forma racional e estruturada exige um horizonte de ações que está além do
atual governo. No plano imediato, é necessário impedir que as lideranças da quadrilha sigam
exercendo comando -o que vai
requerer mais rigor nas revistas
e maior inteligência para identificar as figuras médias na hierarquia da quadrilha.
Os mais cínicos dirão que tudo
o que resta ao atual governo é entrar numa espécie de acordo com
os bandidos para que se mantenham quietos pelo menos até o
início do próximo ano, mas essa é
uma hipótese que esta Folha
prefere nem admitir.
Ações mais duradouras a fim
de eliminar a quadrilha, entretanto, precisam estar inscritas
numa política mais geral de segurança pública, o que parece
-até pelo curto horizonte de
tempo- faltar à atual gestão.
O problema prisional é grave.
Enquanto as cadeias mantiverem seu atual perfil de superlotação e de promiscuidade entre
presos de diferentes categorias
de periculosidade, só o que se
pode esperar é que organizações
como o PCC prosperem.
Para impedir as lideranças criminosas de recrutar seu exército
nos próprios pátios das cadeias,
seria necessário separar os autores de delitos mais graves daqueles de menor potencial ofensivo,
reincidentes de neófitos. Fazê-lo, porém, demanda expandir
muito e depressa o total de vagas
no sistema, que já recebe, por
mês, 840 novos detentos.
Para além de investimentos
em mais e melhores cadeias, é
preciso, também, modificar o
enfoque das polícias e do Judiciário para solucionar mais crimes e punir seus autores, mas
reservando as penas de detenção
para os casos em que o condenado apresenta perigo à sociedade.
Não se vai, é claro, resolver o
problema da segurança pública
com a adoção de mais penas alternativas, mas já ajudaria bastante evitar que o jovem preso
por um pequeno furto entre no
sistema prisional como um ladrão menor e dele saia como
membro de uma poderosa organização delinqüente.
Coordenação entre as várias
pastas ligadas à segurança bem
como entre o Executivo e a Justiça são fundamentais para que a
ameaça do PCC venha a ser uma
funesta lembrança -e não um
perigo real e iminente.
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