São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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IGOR GIELOW

Treva visível

BRASÍLIA - Daqui a uma semana começa a Copa do Mundo, e o mundo político vai poder aproveitar para recolher-se e estudar o que fazer com o quadro apresentado para a disputa seguinte, a eleição.
O consenso vigente hoje, que obviamente pode mudar amanhã, afirma que Lula deve reeleger-se devido à bonança econômica, às recentes bondades e à incompetência da oposição. E que o tucano Alckmin perderá por tudo isso e pela mãozinha dos presidenciáveis de 2010, Serra e Aécio. O PMDB, vitaminado nos Estados e no Legislativo, permanecerá agregado ao poder qualquer que seja o presidente.
Haverá outros subprodutos. O PT poderá estar clinicamente morto, o que parece paradoxal, tendo o Planalto na mão, mas não é. Lula precisou se livrar de toda a cúpula partidária de 2002 para não se contaminar com os eflúvios mensaleiros. O desarranjo vai garantir um desempenho pífio do partido nos Estados e deixá-lo sem candidato natural em 2010 -mas tudo bem, Lula é novinho e pode concorrer em 2014.
Considerando todo o quadro correto, e dado o grau de diluição do interesse e da confiança do cidadão comum na política, haverá alguma qualidade no debate eleitoral?
Dificilmente. E lá se vai a chance de achar alternativas para o crescimento, para a educação e para as famosas "reformas" que desde 1990 assombram essas terras.
O que virá? Os absurdos de praxe. Lula bajulando Quércia e convocando a oposição a explorar a CPI para se dar mal. Alckmin, ignorando ser tucano, criticando a "farra cambial". De quebra, histrionices e delírios de Heloísa Helena, Enéas e outros. Pelo menos, desta vez o populismo evangélico parece restrito a seu berço, o Rio.
Distorcendo Fernando Pessoa, as chamas desse debate lançarão não luzes, mas, antes, trevas visíveis. É um começo, mas é pouco.


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