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IGOR GIELOW
Treva visível
BRASÍLIA - Daqui a uma semana
começa a Copa do Mundo, e o mundo político vai poder aproveitar para recolher-se e estudar o que fazer
com o quadro apresentado para a
disputa seguinte, a eleição.
O consenso vigente hoje, que obviamente pode mudar amanhã,
afirma que Lula deve reeleger-se
devido à bonança econômica, às recentes bondades e à incompetência
da oposição. E que o tucano Alckmin perderá por tudo isso e pela
mãozinha dos presidenciáveis de
2010, Serra e Aécio. O PMDB, vitaminado nos Estados e no Legislativo, permanecerá agregado ao poder
qualquer que seja o presidente.
Haverá outros subprodutos. O
PT poderá estar clinicamente morto, o que parece paradoxal, tendo o
Planalto na mão, mas não é. Lula
precisou se livrar de toda a cúpula
partidária de 2002 para não se contaminar com os eflúvios mensaleiros. O desarranjo vai garantir um
desempenho pífio do partido nos
Estados e deixá-lo sem candidato
natural em 2010 -mas tudo bem,
Lula é novinho e pode concorrer
em 2014.
Considerando todo o quadro correto, e dado o grau de diluição do interesse e da confiança do cidadão
comum na política, haverá alguma
qualidade no debate eleitoral?
Dificilmente. E lá se vai a chance
de achar alternativas para o crescimento, para a educação e para as famosas "reformas" que desde 1990
assombram essas terras.
O que virá? Os absurdos de praxe.
Lula bajulando Quércia e convocando a oposição a explorar a CPI
para se dar mal. Alckmin, ignorando ser tucano, criticando a "farra
cambial". De quebra, histrionices e
delírios de Heloísa Helena, Enéas e
outros. Pelo menos, desta vez o populismo evangélico parece restrito
a seu berço, o Rio.
Distorcendo Fernando Pessoa, as
chamas desse debate lançarão não
luzes, mas, antes, trevas visíveis. É
um começo, mas é pouco.
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