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NELSON MOTTA
Portugal tropical
LISBOA - Passeando pelas calçadas de pedras portuguesas da avenida da Liberdade, sob um suave sol
de verão, me vieram à cabeça velhos
versos de Chico Buarque, em plena
ditadura Médici, quando cantava,
com tristeza e sarcasmo, em "Calabar": "Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal / ainda vai tornar-se
um imenso Portugal", na época, salazarista, isolado e obscurantista. A
poesia era boa, mas a profecia não
se concretizou, Portugal mudou.
Depois da Revolução dos Cravos,
nós continuamos na ferradura e invejamos os irmãos do ultramar.
Chico cantou por nós, com esperança:
"Sei que há léguas a nos separar /
Tanto mar, tanto mar / Sei, também, quanto é preciso, pá / Navegar, navegar".
Cruzando o Rocio e admirando a
beleza de Lisboa e a estabilidade, o
progresso e a liberdade de Portugal,
voltei a pensar na profecia de Chico
e me diverti com a idéia de que, como está Portugal, até que não teria
sido mau negócio...
Quem poderia ter seguido a inspiração do poeta é seu amigo Fidel
Castro, tornando Cuba -que tem a
mesma população e mais recursos
naturais- um Portugal tropical.
Aqui, ninguém passa fome, os desempregados e aposentados têm
seus direitos respeitados, ninguém
morre por falta de médico ou de remédios, há escola para todos, ótimas universidades, salários dignos.
Plenas liberdades democráticas.
Nesses 30 anos em que Cuba foi
ajudada pela União Soviética para
construir o socialismo, e Portugal
pela União Européia para construir
uma democracia, os resultados são
conhecidos. Nem na saúde pública
e na educação, de que tanto se orgulha, Cuba conseguiu resultados melhores do que Portugal. E sacrificou
os sonhos e a liberdade de várias gerações.
E ainda há quem queira nos tornar uma imensa Cuba.
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