São Paulo, terça-feira, 02 de julho de 2002

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A POLÍTICA E O FUTEBOL

Sempre que as agendas da política e do futebol se cruzam, alguma celeuma se cria. Políticos, seja do governismo, seja da oposição, tentam se beneficiar do ambiente favorável das grandes vitórias no esporte. Não será diferente no retorno dos jogadores pentacampeões do mundo ao país, que inclui uma visita ao presidente Fernando Henrique Cardoso em Brasília. As ligações perigosas entre futebol e política, porém, não têm poder de influir nos destinos do país.
Receber campeões no palácio presidencial não é uma tradição exclusiva de países subdesenvolvidos. Jacques Chirac abriu as portas do Eliseu aos atletas franceses que conquistaram a Copa do Mundo em 1998. A esse respeito, digna de nota também foi a atitude do chanceler alemão Gerhard Schröder, que do Canadá, onde participava da reunião do G-8, tomou uma "carona" no avião de seu colega japonês para assistir à final da Copa, no domingo.
No passado, governos militares do Brasil e da Argentina utilizaram vitórias futebolísticas como peça de propaganda de regimes que cerceavam liberdades básicas dos cidadãos. Mesmo nesses casos, que constituem exceção, foram quase nulos os efeitos duradouros da manipulação política da vitória no futebol.
O traço menos visível mas mais perigoso do uso do esporte na política tem relação com o terreno específico das normas e procedimentos que dizem respeito ao futebol. Nos meandros do Parlamento e da administração pública, é possível que o clima favorável após a conquista do penta seja usado na tentativa de frear mudanças positivas para o esporte no Brasil. Por exemplo: há medida provisória tramitando no Congresso que impõe a clubes e federações padrões minimamente transparentes de gestão; há procedimentos investigativos abertos contra pessoas ligadas ao futebol profissional. É preciso estar atento a movimentos que possam, no esteio da euforia com a vitória no Japão, atravancar esses avanços.


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