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Atração irresistível
Aceleração da entrada de capital especulativo no Brasil é mais uma razão para aumentar ritmo de redução da taxa de juros
A ENTRADA de capitais especulativos no Brasil
aumentou muito nos
primeiros meses de
2007. Foi o que constatou reportagem desta Folha publicada na
quarta-feira. O Banco Central
apurou que de janeiro a abril os
bancos captaram no exterior financiamentos de curto prazo
(ou seja, com prazo de vencimento inferior a um ano) no valor de US$ 24,1 bilhões, quase
cinco vezes mais do que no período homólogo do ano passado.
Conforme declarou a economista Solange Srour, da Mellon
Global Investments, tais empréstimos de curto prazo têm relação com o nível ainda muito alto da taxa de juros brasileira.
Captar recursos no exterior pagando juros baixos e aplicá-los a
12% ao ano (o nível atual da taxa
Selic) é irresistível -sobretudo
tendo em conta que, a curto prazo, o risco de uma desvalorização abrupta da moeda brasileira
é muito baixo.
Num passado ainda recente,
quando as contas externas do
país se encontravam em posição
de grande fragilidade, a possibilidade de uma súbita reversão do
fluxo de capital externo de curto
prazo - isto é, de grandes entradas transformarem-se em grandes saídas- alimentava o receio
de desvalorizações repentinas e
expressivas do real. Receios, vale
lembrar, que recorrentemente
se mostraram fundados.
O contexto de hoje é muito diverso. Graças a uma combinação
de fatores -como as rodadas de
desvalorização do real de 1999 e
2002; o intenso crescimento do
comércio global; a forte alta das
cotações de commodities que
exportamos; e o baixo crescimento do PIB doméstico-, as
contas externas transitaram para um grau de robustez com que
havia muito não convivíamos.
Nessa nova realidade, os efeitos de grandes entradas de capitais são outros -mas também
comportam riscos que demandam atenção das autoridades.
Embora até havia pouco viesse
minimizando o papel das operações especulativas no movimento recente de apreciação do real,
o Banco Central na prática já começou a desestimulá-las.
Foi esse o sentido de sua decisão, anunciada há poucas semanas, de limitar a chamada "exposição cambial" das instituições
financeiras -isto é, o volume das
operações que envolvem riscos
associados à variação da cotação
do câmbio que elas estão autorizadas a realizar.
Até o momento, contudo, tais
medidas não se revelaram eficazes. Com isso, continua em curso o perigoso processo de corrosão da competitividade dos bens
aqui produzidos vis-à-vis àqueles fabricados no exterior.
A inflação e as expectativas a
respeito de sua evolução neste
ano e nos próximos continuam
muito bem comportadas. O recente Relatório de Inflação do
Banco Central reconhece, em
grau maior do que os documentos anteriores da instituição, essa realidade.
Por isso, significativas reduções adicionais da taxa de juros
básica são esperadas e seriam, do
ponto de vista da diluição das
pressões que concorrem para a
progressiva apreciação do real,
muito bem-vindas.
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