São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2007

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Atração irresistível

Aceleração da entrada de capital especulativo no Brasil é mais uma razão para aumentar ritmo de redução da taxa de juros

A ENTRADA de capitais especulativos no Brasil aumentou muito nos primeiros meses de 2007. Foi o que constatou reportagem desta Folha publicada na quarta-feira. O Banco Central apurou que de janeiro a abril os bancos captaram no exterior financiamentos de curto prazo (ou seja, com prazo de vencimento inferior a um ano) no valor de US$ 24,1 bilhões, quase cinco vezes mais do que no período homólogo do ano passado.
Conforme declarou a economista Solange Srour, da Mellon Global Investments, tais empréstimos de curto prazo têm relação com o nível ainda muito alto da taxa de juros brasileira. Captar recursos no exterior pagando juros baixos e aplicá-los a 12% ao ano (o nível atual da taxa Selic) é irresistível -sobretudo tendo em conta que, a curto prazo, o risco de uma desvalorização abrupta da moeda brasileira é muito baixo.
Num passado ainda recente, quando as contas externas do país se encontravam em posição de grande fragilidade, a possibilidade de uma súbita reversão do fluxo de capital externo de curto prazo - isto é, de grandes entradas transformarem-se em grandes saídas- alimentava o receio de desvalorizações repentinas e expressivas do real. Receios, vale lembrar, que recorrentemente se mostraram fundados.
O contexto de hoje é muito diverso. Graças a uma combinação de fatores -como as rodadas de desvalorização do real de 1999 e 2002; o intenso crescimento do comércio global; a forte alta das cotações de commodities que exportamos; e o baixo crescimento do PIB doméstico-, as contas externas transitaram para um grau de robustez com que havia muito não convivíamos.
Nessa nova realidade, os efeitos de grandes entradas de capitais são outros -mas também comportam riscos que demandam atenção das autoridades.
Embora até havia pouco viesse minimizando o papel das operações especulativas no movimento recente de apreciação do real, o Banco Central na prática já começou a desestimulá-las.
Foi esse o sentido de sua decisão, anunciada há poucas semanas, de limitar a chamada "exposição cambial" das instituições financeiras -isto é, o volume das operações que envolvem riscos associados à variação da cotação do câmbio que elas estão autorizadas a realizar.
Até o momento, contudo, tais medidas não se revelaram eficazes. Com isso, continua em curso o perigoso processo de corrosão da competitividade dos bens aqui produzidos vis-à-vis àqueles fabricados no exterior.
A inflação e as expectativas a respeito de sua evolução neste ano e nos próximos continuam muito bem comportadas. O recente Relatório de Inflação do Banco Central reconhece, em grau maior do que os documentos anteriores da instituição, essa realidade.
Por isso, significativas reduções adicionais da taxa de juros básica são esperadas e seriam, do ponto de vista da diluição das pressões que concorrem para a progressiva apreciação do real, muito bem-vindas.


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