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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lula e o açougue de Renan
SÃO PAULO - "Antigamente as
coisas eram piores, mas foram piorando." Talvez seja um pouco impróprio trazer uma alma sofisticada
como a de Paulo Mendes Campos
(1922-1991) para perto do Conselho
de Ética do Senado. Sua frase, porém, resume com ironia desiludida
a procissão de horrores do Congresso nas últimas semanas.
As coisas só pioraram entre a farsa do relatório Cafeteira e o surgimento triunfal do senador Quintanilha nessa "ópera bufalina". O
Conselho de Ética avacalhou-se de
vez. Está à mercê das chicanas de
Renan Calheiros, que manipula
seus títeres sem muita preocupação
de ocultar as manobras.
Renan é suspeito de falsificar notas fiscais de açougue para explicar
um patrimônio que pudesse justificar o uso de um lobista como intermediário do dinheiro que destinava
à mãe de sua filha. A isso chegamos.
É conversa demais para boi dormir.
As chantagens, os comprometimentos recíprocos, o compadrio
dos parlamentares explicam só parte dos esforços por Renan. Há pelo
menos outros dois ingredientes da
crise que vão além do Congresso.
O primeiro, já anotado ontem por
Elio Gaspari, é a atuação do Planalto. A blindagem de Renan é uma demonstração da força e das proezas
de que é capaz a aliança lulista entre
PT e PMDB -essa mãe generosa,
na casa de quem "todos são inocentes, até prova em contrário", como
gosta de repetir o presidente. A defesa retórica do Estado de Direito
funciona como apologia velada da
impunidade para o aliado político.
Além disso, a ausência de oposição a Lula facilita a vida de Renan. O
PSOL atua como grilo falante, mas
nem de longe tem densidade ou força para fazer o papel do antigo PT.
Indignação? Também foi privatizada, é espasmódica, está atrelada às
oscilações da mídia. Sob o lulismo, é
quase nula a mobilização social, os
grupos de pressão cuidam de seus
interesses dentro ou nas bordas do
Estado, os partidos se acomodam
até 2010. Não há mais conflitos à
vista. Lula anestesiou o país.
Podemos todos dormir em paz:
boi, boi, boi, boi da cara preta...
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