São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2007

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RUY CASTRO

O país sem crianças

RIO DE JANEIRO - O país continua chocado com a bestialidade dos jovens marginais de classe média que agrediram a doméstica Sirlei Carvalho, na Barra da Tijuca, no Rio, há nove dias, e com a atitude do pai de um deles, que os chamou de "crianças", talvez apenas um pouco levadas.
Esse tipo de violência não se confunde com as guerras entre quadrilhas ou com os tiroteios entre polícia e bandidos, que parecem uma doença crônica da sociedade. Mas seria bom que abríssemos o olho. Os casos de barbárie envolvendo jovens -como praticantes, vítimas ou testemunhas- começam a se repetir demais. Eis alguns, somente nas últimas semanas.
No dia 18 passado, numa escola em Votorantim (SP), uma professora foi agredida em sala por dois alunos de 14 anos, que lhe aplicaram voadoras no rosto, quebrando-lhe os dentes com chutes. Na manhã do dia seguinte, em São José do Rio Preto (SP), outro aluno de 14 anos aproveitou-se de que a professora estava de costas, escrevendo na lousa, e botou fogo no cabelo dela com um isqueiro. O incêndio foi contido antes de virar uma tragédia. Mas ninguém culpará essas professoras se, por desencanto ou nojo, elas resolverem mudar de ramo.
Já o professor de educação física de Biguaçu, perto de Florianópolis (SC), não terá essa chance. Foi morto na quarta-feira última, nas arquibancadas do ginásio local, com quatro tiros de uma pistola 9mm. O suspeito é o namorado de uma colega dele. O crime aconteceu na presença de 200 alunos, quase todos crianças.
E, no mesmo dia, em São Paulo, um casal foi morto a tiros em seu carro, num sinal de trânsito no Morumbi. Os criminosos eram assaltantes. O filho do casal, no banco de trás, viu tudo. Tem sete anos.
A continuar assim, logo, logo ninguém mais será criança no Brasil.


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