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RUY CASTRO
O país sem crianças
RIO DE JANEIRO - O país continua chocado com a bestialidade dos
jovens marginais de classe média
que agrediram a doméstica Sirlei
Carvalho, na Barra da Tijuca, no
Rio, há nove dias, e com a atitude do
pai de um deles, que os chamou de
"crianças", talvez apenas um pouco
levadas.
Esse tipo de violência não se confunde com as guerras entre quadrilhas ou com os tiroteios entre polícia e bandidos, que parecem uma
doença crônica da sociedade. Mas
seria bom que abríssemos o olho.
Os casos de barbárie envolvendo jovens -como praticantes, vítimas
ou testemunhas- começam a se repetir demais. Eis alguns, somente
nas últimas semanas.
No dia 18 passado, numa escola
em Votorantim (SP), uma professora foi agredida em sala por dois alunos de 14 anos, que lhe aplicaram
voadoras no rosto, quebrando-lhe
os dentes com chutes. Na manhã do
dia seguinte, em São José do Rio
Preto (SP), outro aluno de 14 anos
aproveitou-se de que a professora
estava de costas, escrevendo na lousa, e botou fogo no cabelo dela com
um isqueiro. O incêndio foi contido
antes de virar uma tragédia. Mas
ninguém culpará essas professoras
se, por desencanto ou nojo, elas resolverem mudar de ramo.
Já o professor de educação física
de Biguaçu, perto de Florianópolis
(SC), não terá essa chance. Foi morto na quarta-feira última, nas arquibancadas do ginásio local, com quatro tiros de uma pistola 9mm. O
suspeito é o namorado de uma colega dele. O crime aconteceu na presença de 200 alunos, quase todos
crianças.
E, no mesmo dia, em São Paulo,
um casal foi morto a tiros em seu
carro, num sinal de trânsito no Morumbi. Os criminosos eram assaltantes. O filho do casal, no banco de
trás, viu tudo. Tem sete anos.
A continuar assim, logo, logo ninguém mais será criança no Brasil.
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