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O mesmo roteiro
Acuado, Lula reincide na tática de atacar "elites", mas governo tem é de mostrar serviço e resolver a crise na infra-estrutura
EM CASO de emergência,
acuse as elites. Esse protocolo para reações de última instância, uma marca de estilo do governo Luiz Inácio Lula da Silva, acaba de ser
acionado mais uma vez. "Se alguns querem brincar com a democracia, eles sabem que neste
país ninguém sabe colocar mais
gente na rua do que eu", exagerou o presidente em Cuiabá.
No evento restrito a aduladores em que anunciou verbas do
PAC, ganhou uma viola pantaneira e programou uma pescaria
com o governador Blairo Maggi
(PR), Lula pôs-se a teorizar sobre
a fonte das vaias e dos protestos
que vem recebendo. Viriam dos
que "mais deveriam estar aplaudindo", pois "ganharam muito
dinheiro no meu governo". "É só
ver quanto ganharam os banqueiros, os empresários."
Na perífrase que fecha a caracterização dos oponentes, Lula
atacou "gente que ficou contente
com os 23 anos [foram 21] de regime militar e está incomodada
com a democracia, porque a democracia pressupõe o pobre ter
direitos". A pior elite -endinheirada, demófoba, golpista e, como
se não bastasse, ingrata- conspiraria contra o presidente que
veio do povo e faz política "sem
discriminação".
Lula acusou o golpe, como se
diz no jargão comum à política e
ao boxe. Desde o início da campanha do segundo turno -quando ficou claro que ganharia mais
quatro anos de mandato com
uma margem confortável de votos- até poucas semanas atrás, o
presidente vinha flanando.
A displicência na tarefa de definir a equipe de governo, o loteamento agressivo de cargos federais, as suspeitas contra o presidente do Senado (figura central
no governismo) e dez meses de
descontrole acumulado nos aeroportos não conseguiram despertar a opinião pública de um
certo estado de anestesia em relação às atitudes do governo. Essa "lua-de-mel" foi pelo menos
interrompida após o episódio da
vaia no Maracanã e, com muito
mais contundência, depois da catástrofe com o avião da TAM.
As pessoas que protestaram
em São Paulo diante do prédio
destruído pelo Airbus foram solidárias à dor de familiares e amigos dos 199 mortos na tragédia.
Há críticas à criação do movimento denominado "Cansei",
que acabou associado a figuras
próximas à oposição e a um certo
ar de frivolidade. Mas todos têm
o direito de se manifestar.
Não procede, tampouco, a acusação de golpismo. O "Fora Lula"
ameaça tanto a democracia
quanto o "Fora FHC", entoado
pela militância petista, a ameaçava no passado -em nada. Nem
se pode acatar o argumento, implícito nas críticas do governismo, de que a organização de protestos seja direito circunscrito às
elites oriundas do sindicalismo.
A velha tática lulista de atiçar
um conflito social arquetípico
não vai funcionar. O que está em
jogo não é uma eleição, mas a
própria (in)capacidade administrativa do governo. A crise na infra-estrutura se resolve com
muito trabalho e ações, itens que
têm permanecido em crônico
apagão ao longo da gestão Lula.
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