São Paulo, quinta-feira, 02 de agosto de 2007

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Demora inaceitável

QUATRO ANOS e pelo menos 180 mil mortos depois, a ONU finalmente deu um passo concreto para pôr um fim ao genocídio de Darfur. O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou anteontem uma resolução que autoriza o envio de 26 mil soldados para essa região do oeste do Sudão.
O conflito teve início em fevereiro de 2003, quando rebeldes de Darfur pegaram em armas contra a administração central, que acusavam de discriminar a população não-árabe. Em resposta, Cartum passou a armar e apoiar uma milícia de sudaneses arabizados, a Janjaweed, a qual deu início a uma campanha de "limpeza étnica" que vitimou a população local. A estimativa de mortos varia entre 180 mil e 400 mil. Mais de 2 milhões de pessoas foram desalojadas.
O que impressiona no caso de Darfur é a demora da ONU para agir. Apesar das notícias dando conta da carnificina, diplomatas da ONU embrenhavam-se numa interminável discussão sobre se a definição de genocídio constante da Convenção de Genocídio, de 1948, se aplicava ou não à situação em Darfur.
A inação acobertava outros interesses. A China é cliente do petróleo sudanês. A Rússia, com a Tchetchênia nos calcanhares, é alérgica à palavra "genocídio" para justificar intervenções e embargos. Também os EUA, de início, preferiram não se indispor com Cartum, que vinha colaborando nos esforços antiterrorismo. Mais recentemente, num de seus poucos acertos em política externa, Bush ampliou a pressão e estabeleceu por conta própria um embargo contra o Sudão.
A situação só mudou mesmo com a chegada ao poder da dupla Gordon Brown (novo premiê britânico) e Nicolas Sarkozy (novo presidente francês). Ambos precisam mostrar que, embora pertencentes aos mesmos partidos, são diferentes dos seus antecessores. Viva a diferença.


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