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Demora inaceitável
QUATRO ANOS e pelo menos
180 mil mortos depois, a
ONU finalmente deu um
passo concreto para pôr um fim
ao genocídio de Darfur. O Conselho de Segurança das Nações
Unidas aprovou anteontem uma
resolução que autoriza o envio
de 26 mil soldados para essa região do oeste do Sudão.
O conflito teve início em fevereiro de 2003, quando rebeldes
de Darfur pegaram em armas
contra a administração central,
que acusavam de discriminar a
população não-árabe. Em resposta, Cartum passou a armar e
apoiar uma milícia de sudaneses
arabizados, a Janjaweed, a qual
deu início a uma campanha de
"limpeza étnica" que vitimou a
população local. A estimativa de
mortos varia entre 180 mil e 400
mil. Mais de 2 milhões de pessoas foram desalojadas.
O que impressiona no caso de
Darfur é a demora da ONU para
agir. Apesar das notícias dando
conta da carnificina, diplomatas
da ONU embrenhavam-se numa
interminável discussão sobre se
a definição de genocídio constante da Convenção de Genocídio, de 1948, se aplicava ou não à
situação em Darfur.
A inação acobertava outros interesses. A China é cliente do petróleo sudanês. A Rússia, com a
Tchetchênia nos calcanhares, é
alérgica à palavra "genocídio"
para justificar intervenções e
embargos. Também os EUA, de
início, preferiram não se indispor com Cartum, que vinha colaborando nos esforços antiterrorismo. Mais recentemente, num
de seus poucos acertos em política externa, Bush ampliou a pressão e estabeleceu por conta própria um embargo contra o Sudão.
A situação só mudou mesmo
com a chegada ao poder da dupla
Gordon Brown (novo premiê
britânico) e Nicolas Sarkozy (novo presidente francês). Ambos
precisam mostrar que, embora
pertencentes aos mesmos partidos, são diferentes dos seus antecessores. Viva a diferença.
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