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CLÓVIS ROSSI
Lula não é inimputável
SÃO PAULO - Se vaiar o presidente e promover manifestação contra
o governo é "brincar com a democracia", Luiz Inácio Lula da Silva e o
PT brincaram com a democracia
durante toda a vida deles. Até, claro,
chegar ao poder federal, no qual se
consideram inimputáveis.
Brincar com a democracia e, pior,
desmoralizá-la, é passar a vida criticando os governos que governavam
para os ricos e, ao assumir, fazer rigorosamente a mesma coisa e ainda
gabar-se de estar dando muito mais
para os ricos do que para os pobres.
Gabolice, aliás, desnecessária para quem acompanha os números,
como os ricos o fazem. Só no primeiro semestre deste ano, os ricos
entre os ricos, que são os detentores
de títulos da dívida pública, receberam do governo Lula uma doação
equivalente a 6,5% do PIB, toda a riqueza que um país produz em dado
período.
Trata-se muito provavelmente
da maior transferência de renda para os ricos em todo o planeta, constatação, aliás, já feita por Carlos
Lessa, que foi presidente do
BNDES no início do governo Lula e
"cansou" faz tempo deste governo.
Também desmoraliza a democracia tolerar que prospere à sombra do governo uma "organização
criminosa", como a batizou, no episódio do mensalão, ninguém menos
que o procurador-geral da República, nomeado por Lula.
Ou seria conspirador e de direita
Frei Betto, confessor do presidente
e seu assessor especial durante dois
anos, quando classifica a "crise ética de 2005" como "tumor fétido de
alianças nefastas que reduziram o
contrato programático a um balcão
de negócios com moeda suspeita"?
O próprio PT, apesar de também
usar a descerebrada teoria da conspiração, admite que "os ataques estão concentrados (...) nos flancos
que deixamos abertos e nos erros
cometidos".
Queriam o quê? Aplausos e flores
pelos que chamam de erros (mas foram crimes)?
crossi@uol.com.br
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