São Paulo, quinta-feira, 02 de agosto de 2007

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CARLOS HEITOR CONY

Bergman

RIO DE JANEIRO - Poucos cineastas obtiveram um consenso crítico favorável como Ingmar Bergman. Nos anos 50 a 70 do século passado, cada um de seus filmes marcava um momento bom do cinema mundial, fenômeno que só acontecia com Fellini. Bem verdade que nunca chegou a ser popular, apesar dos muitos prêmios importantes que ganhou e na influência que exerceu em cineastas como Woody Allen, de trânsito internacional, e Walter Hugo Khouri, no Brasil. E, até certo ponto, Michelangelo Antonioni, também de trânsito internacional, que morreu nesta semana.
Bergman deu ao cinema um patamar novo, além da diversão e da mensagem, foi ao mesmo tempo um mestre da imagem e da palavra. Ao contrário de John Ford e Eisenstein, que faziam filmes para fora, ele fazia filmes para dentro, exigia que o espectador metabolizasse cada cena, cada diálogo. Sobretudo, cada silêncio.
Sua obra não é vital como a de Fellini. É até mesmo sombria, uma pauta vazia em que ele escrevia gritos e sussurros, cavando fundo na matéria da alma de seus personagens, basicamente das mulheres que refletiam o seu mundo interior.
O primeiro filme, "Monica e o desejo" (1952), passou aqui no Rio numa sala dedicada ao cinema pornô. Nada tinha de pornográfico, apenas mostrava uma adolescente em seu estágio de mulher e desejo.
Seu melhor filme, entre os melhores, em minha opinião, seria "Morangos silvestres" (1957), mas o que me marcou foi "Sorrisos de uma noite de verão" (1955), do qual tirei uma frase para a epígrafe de um dos meus romances ("Matéria de memória"): o amor é horrível ocupação. O livro é de 1963, dei o crédito a Ingmar Bergman, mas os resenhistas acharam que eu me enganara e atribuíram a frase a Ingrid Bergman.


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