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CARLOS HEITOR CONY
Bergman
RIO DE JANEIRO - Poucos cineastas obtiveram um consenso
crítico favorável como Ingmar
Bergman. Nos anos 50 a 70 do século passado, cada um de seus filmes
marcava um momento bom do cinema mundial, fenômeno que só
acontecia com Fellini. Bem verdade
que nunca chegou a ser popular,
apesar dos muitos prêmios importantes que ganhou e na influência
que exerceu em cineastas como
Woody Allen, de trânsito internacional, e Walter Hugo Khouri, no
Brasil. E, até certo ponto, Michelangelo Antonioni, também de
trânsito internacional, que morreu
nesta semana.
Bergman deu ao cinema um patamar novo, além da diversão e da
mensagem, foi ao mesmo tempo
um mestre da imagem e da palavra.
Ao contrário de John Ford e Eisenstein, que faziam filmes para fora, ele fazia filmes para dentro, exigia que o espectador metabolizasse
cada cena, cada diálogo. Sobretudo,
cada silêncio.
Sua obra não é vital como a de Fellini. É até mesmo sombria, uma
pauta vazia em que ele escrevia gritos e sussurros, cavando fundo na
matéria da alma de seus personagens, basicamente das mulheres
que refletiam o seu mundo interior.
O primeiro filme, "Monica e o desejo" (1952), passou aqui no Rio numa sala dedicada ao cinema pornô.
Nada tinha de pornográfico, apenas
mostrava uma adolescente em seu
estágio de mulher e desejo.
Seu melhor filme, entre os melhores, em minha opinião, seria
"Morangos silvestres" (1957), mas o
que me marcou foi "Sorrisos de
uma noite de verão" (1955), do qual
tirei uma frase para a epígrafe de
um dos meus romances ("Matéria
de memória"): o amor é horrível
ocupação. O livro é de 1963, dei o
crédito a Ingmar Bergman, mas os
resenhistas acharam que eu me enganara e atribuíram a frase a Ingrid
Bergman.
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