|
Próximo Texto | Índice
EDITORIAIS
PACOTE SEM REFORMA
No apagar das luzes de seu segundo mandato, num momento de esvaziamento do Congresso Nacional em que as atenções se
voltam para as eleições, o governo
Fernando Henrique Cardoso produz
mudanças econômicas no varejo. O
pacote tributário da semana passada
segue esse roteiro.
O governo novamente recorreu ao
instituto da medida provisória. Do
conceito de reforma tributária restou
apenas a hipótese, reafirmada pelo
secretário da Receita Federal, de que
não haverá aumento nem queda de
receita. A neutralidade dos pacotes
oficiais, no entanto, raramente se
confirmou na prática.
Na MP anunciada, discutem-se
ainda os efeitos desiguais das medidas sobre indústria, agricultura e serviços. O impacto inflacionário do pacote também inspira preocupações.
Na prática, várias das medidas fazem sentido e somente não foram
votadas ordinariamente no Congresso Nacional pela absoluta impossibilidade de levar os políticos ao trabalho neste período eleitoral. É o caso
do fim da cumulatividade na cobrança do PIS/Pasep, cuja alíquota sobe
de 0,65% para 1,65%, mas que será
cobrado apenas quando a empresa
agregar valor ao produto.
O pacote altera ainda a metodologia de cobrança do IPI, propiciando
mais folga de caixa às empresas, em
especial às exportadoras.
O governo lançou ainda medidas
de combate à elisão fiscal, sobretudo
a algumas modalidades de maquiagem de balanços com o objetivo de
recolher menos impostos, prática
conhecida como engenharia fiscal
ou tributária. Fusões e cisões de empresas vinham ocorrendo sobretudo
com a finalidade de burlar o fisco.
Finalmente, o pacote se completa
com medidas de estímulo a empresas com atuação no Mercosul.
Definir esse pacote como uma "minirreforma tributária" é certamente
um exagero. Trata-se de um conjunto de remendos a um sistema que, no
seu conjunto, continua uma colcha
de retalhos. O desafio de fazer a reforma tributária é legado aos futuros
presidente e Congresso do Brasil.
Próximo Texto: Editoriais: PRAGMATISMO SEM FIM Índice
|