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TENDÊNCIAS/DEBATES
O horário eleitoral influi significativamente
sobre a decisão de voto do eleitor?
SIM
Sobre Enéas e "Big Brother"
RUBENS FIGUEIREDO
A TELEVISÃO dita comportamentos, faz e desfaz a moda,
coloca temas na ordem do dia,
transforma ilustres desconhecidos
em celebridades, desfaz reputações
em minutos. A televisão faz um país
inteiro assistir satisfeito, meses a fio,
a um grupo de anônimos que lavam
banheiros, fazem omelete e travam
diálogos idiotas. Por que não haveria
de ser importante nas eleições?
A opinião pública está saturada de
política. Pesquisas mostram que 18%
pretendem anular seu voto para deputado. Em 2002, 2,9% fizeram o
mesmo. Vivemos uma eleição sem clima de eleição. Não temos outdoors
nem penduricalhos nos postes, e os
pagodeiros estão em casa, pois os
showmícios foram proibidos.
Temos um presidente candidato
com 50% de intenção de voto e uma
massa de eleitores de baixa instrução
satisfeitos com o governo. A economia patina, mas as pessoas têm a sensação de que tudo vai bem. A coisa está empolgante como um caldinho de
batata. Mas, daí a dizer que o horário
eleitoral não tem influência nas eleições, há uma distância oceânica.
Vamos começar pelos cargos proporcionais, que é o pedaço mais enfadonho do horário eleitoral. O que não
foi Enéas, com seu mais de 1 milhão
de votos, que levou consigo outros
quatro deputados do então desconhecido PRONA para Brasília, senão um
produto da TV? Um visual diferente,
uma fala rápida, um bordão, algumas
campanhas com pouquíssimo tempo
e... pimba! Conseguiria aquela votação distribuindo jornal nas esquinas?
Enéas é um produto puro da TV.
Mas há outros candidatos que obtiveram notoriedade em suas áreas de
atuação e partiram para a política. Esportistas, cantores, apresentadores,
radialistas etc. No horário eleitoral,
eles multiplicam por dez o seu potencial de votos, já que divulgam que são
candidatos para o conjunto do eleitorado. Exemplos: Agnaldo Timóteo,
Biro-Biro, Éder Jofre, Aurélio Miguel,
Clodovil e muitos outros.
No que tange aos cargos proporcionais, Collor é um exemplo de almanaque da força da TV. Político de Alagoas, de fora do "stabilishment", desconhecido nacionalmente, candidato
por um partido que não existia, transforma-se num grande fenômeno e
acaba eleito presidente da República.
Suas bravatas não teriam o mesmo
efeito em adesivos de pára-choque.
Mas tudo poderia ser diferente se
não fosse... a TV. As pesquisas mostravam uma ascensão de Lula, que
ameaçava a liderança de Collor. Aí, o
programa de Collor divulgou as declarações de Mirian Cordeiro, ex-namorada de Lula, com quem tivera uma filha. E houve o debate, no qual Collor
foi melhor. E a edição do debate. A
tendência se inverteu e Collor virou
presidente. Tudo rapidinho, tudo na
TV, quase tudo no horário eleitoral.
Na eleição de 2002, o candidato Ciro Gomes vinha bem nas pesquisas.
Então, proferiu frases infelizes: uma
ofensiva às mulheres e outra questionando a inteligência de um eleitor. As
declarações foram reproduzidas nos
programas do adversário, e Ciro despencou nas pesquisas, para não mais
se recuperar. É a força da TV.
O horário eleitoral é particularmente importante quando um governador ou um prefeito com altos níveis
de aprovação apresentam um candidato desconhecido. Fleury seria eleito governador de São Paulo, em 1994,
sem a "blitz" televisiva diária na qual
Quércia dizia ser ele, Fleury, o continuador da sua obra? E Pitta, ex-prefeito de São Paulo, seria eleito se não
fosse a pregação de Maluf a seu favor?
Televisão é um instrumento poderosíssimo, mas não tem o condão de
mudar atitudes e valores fortemente
arraigados nas pessoas. A TV não convence as pessoas a deixar de gostar de
seus filhos. Collor foi presidente porque existia um desejo generalizado de
mudança na sociedade, que ele encarnou com seu voluntarismo de carateca. Agora, não. A grande maioria dos
eleitores não quer mudar. E existe um
candidato que representa a não mudança. É por isso que não muda.
RUBENS FIGUEIREDO, 48, é cientista político pela USP,
consultor, diretor do Cepac - Pesquisa e Comunicação e
comentarista da rádio Jovem Pan. É autor, entre outras
obras, de "Marketing político e persuasão eleitoral".
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