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Descalabro
Novas revelações reforçam aspecto político da quebra de sigilos na Receita e exigem apuração que vá além da tentativa de culpar barnabés
A empresária Veronica Serra, filha do candidato tucano à Presidência da República, José Serra,
também teve seu sigilo fiscal violado por funcionários da Receita.
O caso se soma a outros, noticiados recentemente, no que já se
configura como mais um escândalo nacional. O novo capítulo reforça a percepção de que as ações criminosas no âmbito do órgão federal têm motivações políticas.
É bom recapitular a sucessão
dos fatos para que se tenha noção
mais clara do banditismo em curso: em junho, esta Folha revelou
que Eduardo Jorge Caldas Pereira,
vice-presidente do PSDB, teve seu
sigilo fiscal violado no ano passado. Dados do Imposto de Renda
do dirigente tucano integravam
um dossiê confeccionado pelo
grupo de inteligência da campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT), que negou participação
no episódio.
Há uma semana, descobriu-se
que outros três nomes ligados ao
PSDB também haviam sido vítimas de idêntico abuso, na mesma
agência da Receita, localizada em
Mauá, na região do ABC paulista,
berço do PT e reduto histórico do
sindicalismo atrelado ao partido.
Tudo leva a supor que a violência perpetrada contra a filha de
Serra faça parte de uma mesma articulação delinquente a serviço da
candidatura petista.
No que se refere a Veronica Serra, há algumas diferenças de procedimento em relação às demais
violações. O acesso aos dados fiscais ocorreu na delegacia da Receita de Santo André, também no
ABC, mediante uma procuração
fajuta. A filha de Serra não tinha
firma reconhecida no cartório, a
assinatura que consta no documento não é a sua, e o carimbo utilizado é falso. Além disso, o titular
da procuração utilizava cinco
CPFs e ostenta vasto histórico de
cheques sem fundo -um perfil típico do estelionatário.
Sabe-se já da existência de um
esquema criminoso de compra e
venda de dados sigilosos envolvendo a agência de Mauá. Ali teriam acontecido pelo menos 320
acessos sem amparo legal.
Estarrecedor, o descalabro está
sendo usado como cortina de fumaça pelo governo para tentar
despolitizar o escândalo. Se há crime comum, há também crime político-eleitoral, cuja intenção é intimidar e chantagear adversários
do grupo hoje no poder.
Não bastassem as evidências
(há petistas entre as vítimas?), é
preciso registrar que o atual governo tem caudaloso histórico de
aparelhamento do Estado -do
mensalão à quebra de sigilo do caseiro, dos aloprados de 2006 aos
delinquentes de agora.
Instalou-se no país um ambiente intolerável de impunidade e
desfaçatez. Espera-se que a Polícia Federal e o Ministério Público
ainda reúnam condições de desmascarar a farsa de uma investigação propensa a apontar a responsabilidade de barnabés e ocultar as motivações políticas que,
conforme todos os indícios, estão
por trás do caso.
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