|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Salto de qualidade
BRASÍLIA - Álvaro Uribe teve picos
de mais de 80% de popularidade
na Colômbia, mas o seu sucessor,
Juan Manuel Santos, não vai ficar
atrás e já disparou logo ao assumir.
Uribe e Santos, que foi seu ministro da Defesa à época do resgate de
Ingrid Betancourt das Farc, não
têm nada de bonzinhos. Ambos são
duríssimos no combate ao narcotráfico e igualmente próximos dos
EUA. A Colômbia é e vai continuar
sendo o principal aliado de Washington na América do Sul.
Dito isso, às diferenças: Uribe é
um tosco, voltou-se para dentro da
Colômbia e deu de ombros para os
vizinhos e para as articulações políticas comuns, enquanto Santos é
refinado intelectualmente e tem
uma visão geopolítica sofisticada.
Vai manter a pressão militar contra as Farc, tratar muito bem Obama e prestigiar a OEA (onde os EUA
exercem liderança), mas ele tende a
ter uma presença maior, mais articulada e mais estratégica do que
Uribe na América do Sul.
Apesar de polido e diplomático,
o novo presidente não se omite em
questões espinhosas. À Folha disse
que, se o Brasil quer mesmo ajudar
no caso das Farc, é simples: basta
reconhecer que o grupo terrorista é
um grupo terrorista. E dispensou
mediação para resolver as coisas
com a Venezuela: "Estou manejando diretamente com Chávez".
O perrengue de Uribe e Chávez
foi um desastre sobretudo econômico para os dois países. Com Santos, não haverá perrengue, haverá
pragmatismo. Se depender só dele,
não vai se relacionar com Chávez
na base de "direita x esquerda", e
sim como homem de Estado.
Com origem na imprensa, disse
que não apoia e jamais apoiará ataques à liberdade de expressão contra qualquer cidadão, de qualquer
lugar, "sobretudo jornalistas". Não
é bom ouvir e ler isso?
Santos tem tudo para ser um ator
político relevante na América do Sul, que está em fase de reacomodação. O bom senso parece preponderar. Vamos ver se resiste.
elianec@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Enjaulem o Leão Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: As Guerras Púnicas Índice
|