São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

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KENNETH MAXWELL

Confessando

As universidades são muito boas em aconselhar os outros sobre como devem se comportar. Mas muito menos transparentes no que tange às suas transgressões. Harvard serve como exemplo.
Surgiu nesta semana o anúncio de que Marc Hauser, um popular professor e pesquisador do Departamento de Psicologia e diretor do Laboratório de Evolução Cognitiva de Harvard, não lecionaria mais na Escola de Extensão Universitária da universidade. O professor Hauser está em licença compulsória neste momento.
Mas Harvard não foi transparente em relação ao problema.
O diretor da área de artes e ciências, Michael Smith, enviou uma carta ao corpo docente, em agosto, informando que o professor Hauser havia sido considerado "pessoalmente responsável" por oito delitos de conduta científica na coleta, análise e armazenagem de dados e na prestação de contas quanto a métodos de pesquisa.
A revista "Chronicle of Higher Education" oferece mais detalhes. Mencionando um documento interno, encaminhado à publicação de forma anônima por um antigo assistente de pesquisa de Hauser, a reportagem revela que a queixa central se relacionava a uma experiência que testava a capacidade de macacos rhesus para reconhecer padrões de som.
O professor Hauser havia trabalhado em estudos que pareciam demonstrar que, como os seres humanos na primeira infância, os macacos rhesus têm a capacidade de distinguir esses padrões, que são um dos componentes no aprendizado da linguagem.
Um assistente de pesquisa e um aluno de pós-graduação foram incapazes de reproduzir as experiências que Hauser relatou ter realizado. E surgiu a informação de que diversos outros membros do laboratório de Hauser também acreditavam que ele havia reportado dados falsos e insistido em que fossem utilizados.
Em 2007, o assistente de pesquisa fez sua queixa ao ombudsman de Harvard e posteriormente a encaminhou à reitoria. Mas a universidade demorou três anos para concluir sua investigação, que identificou problemas em diversos dos estudos acadêmicos conduzidos por Hauser.
Como o professor havia recebido verbas federais de pesquisa, o relatório da universidade foi encaminhado ao Serviço de Integridade de Pesquisas do Departamento da Saúde e Serviços Humanos norte-americano.
Alguma coisa acontecerá?
Duvido muito. Cabe ressaltar que o professor Hauser é o autor de "Mentes morais: como a natureza criou nosso senso universal de certo e errado".
No momento, ele está trabalhando em um novo livro: "As delícias da maldade: como desenvolvemos o gosto por fazer o mal".


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI.


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