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Ladeira abaixo
Juros baixos do Fed e economia fraca dos EUA lançam nova avalanche de dólares em busca de rendimento alto no Brasil
PARA ALGUNS observadores
da economia contemporânea, a solução de uma
crise global tem significado a semeadura da crise seguinte. O Fed baixou os juros diante
da derrocada das ações de tecnologia em 2000, mas incentivou a
especulação com imóveis que,
sete anos depois, propicia tumulto. Ao repetir a dose agora, a fim
de remediar o estrago financeiro
causado pela recessão imobiliária, o BC dos EUA estaria ajudando a inflar a próxima bolha.
O futuro dirá se (e como) esse
misto de teoria e fatalismo -afinal, a economia capitalista é cíclica por natureza- vai se confirmar mais uma vez. Menos controverso é que uma das correias
de transmissão entre o remédio
ministrado pelo Fed para lidar
com sua crise local e o conjunto
da economia mundial será o enfraquecimento do dólar.
A perspectiva de menor crescimento e juros cadentes nos EUA
revigorou a busca por aplicações
de maior rendimento. Nesse movimento, investidores vendem
ativos denominados em dólar e
compram papéis em outras moedas. Como resultado, o dólar se
desvaloriza em relação às moedas de países que adotam o câmbio flutuante -concentrados na
Europa e na América Latina. Os
países asiáticos, contudo, persistem limitando drasticamente a
flutuação de suas moedas com
pesadas intervenções no câmbio.
A estratégia adotada pelas nações da Ásia, com a China e o Japão à frente, é a de assegurar taxas de câmbio relativamente
desvalorizadas, favoráveis a suas
exportações, e acumular grandes
volumes de reservas internacionais. Ao manter o dinamismo de
suas economias, impulsionam as
exportações dos países produtores de commodities agrícolas,
metálicas e energéticas.
Por sua vez, a desvalorização
do dólar beneficia as exportações
dos EUA para os países que não
evitam a valorização de suas
moedas. O movimento pode ajudar a compensar a retração econômica propiciada pela recessão
no mercado imobiliário americano -aumentando a demanda
por produtos "made in USA"-,
mas pode, também, inibir a expansão da atividade na Europa.
Uma desvalorização abrupta seria preocupante. Exigiria, provavelmente, um corte nas taxas de
juros européias para freá-la.
No Brasil, a pressão pela valorização do real já foi revigorada.
Ontem a cotação do dólar (US$
1,81) bateu um novo recorde de
baixa. Em setembro, o dólar caiu
6,6%. Por um lado, os preços elevados das commodities -catapultados pelo dínamo asiático-
mantêm elevado o superávit comercial brasileiro. Por outro, a
busca por rendimentos mais polpudos amplia a entrada de capitais no Brasil -"expulsos" pelos
juros cadentes do Fed.
Somadas, a tendência de redução dos juros americanos e a de
estagnação da Selic (implícita na
última ata do Copom) propiciarão uma avalanche ainda maior
de dólares em busca de papéis
brasileiros. E isso sem contar
com a possibilidade, concreta, de
o mercado financeiro do Brasil
tornar-se, mais cedo do que se
prevê, oficialmente aberto para
aplicações dos portentosos fundos de pensão americanos.
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