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COBERTOR CURTO
As perdas de reservas levaram as
autoridades brasileiras a uma estratégia de tentar antecipar receitas.
Uma fórmula é renegociar o adiantamento dos pagamentos dos investidores internacionais que ganharam
leilões recentes de privatização.
Outra hipótese é voltar ao mercado
internacional, onde bancos e empresas privados se endividaram nos últimos anos, e aumentar o endividamento público. Para tanto, as autoridades brasileiras podem oferecer como garantia receitas como as que serão geradas com a venda de energia
de Itaipu. A engenharia financeira incluiria a troca de dívidas com a Eletrobrás e a colocação de novos papéis
no exterior. O México, quando entrou em crise, deu como garantia o
resultado de suas vendas de petróleo.
São estratégias bastante criativas e,
diante da crise financeira que se
aprofunda, tentam evitar o pior.
Entretanto, mesmo supondo que
elas sejam bem-sucedidas no curto
prazo, são bastante problemáticas.
Como nos anos 80, mais uma vez se
enfrenta o problema da dívida externa provocando mais dívida externa.
Ao mesmo tempo, esse novo endividamento compromete cada vez mais
as receitas públicas. É como a velha
história do cobertor curto. No caso,
o cobertor é a arrecadação futura.
Antecipar receitas pode deixar sem
cobertura os períodos futuros, quando vencerá a dívida ampliada.
Na prática, essas antecipações podem ter efeito oposto ao desejado,
comprometendo a confiança do mercado na futura solvência do país.
Talvez não seja por acaso, aliás, que
se fala cada vez mais, nos círculos financeiros privados e também nos organismos multilaterais como o FMI,
numa nova rodada de reestruturação
das dívidas de países emergentes.
Em política, há quem acredite que
em certos momentos "é melhor fazer
a revolução antes que o povo a faça".
Na crise financeira global, esquemas
provisórios têm se mostrado flagrantemente insuficientes. Talvez seja
melhor para credores e devedores
reestruturar o quanto antes as dívidas, antes que elas se tornem efetivamente impagáveis.
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