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PAGAMOS E NÃO TIVEMOS
"Na verdade, nunca tivemos US$ 70
bilhões. Concretamente, as reservas
estavam em torno de US$ 50 bilhões", afirma Francisco Lopes, diretor de Política Monetária do Banco
Central. Essa instituição, entre outras funções, administra os dólares
que entram no país e zela pela manutenção de quantidade adequada dessa moeda no caixa nacional.
É com esses dólares que, por exemplo, o país paga os produtos que importa e os juros que deve. O resto do
mundo não aceita reais. O Brasil consegue moeda forte, em geral dólares,
exportando ou recebendo investimentos estrangeiros. Quando não
obtém o bastante para cobrir essas
despesas externas, o governo pode
emprestar dinheiro, pagando juros
para atrair capital. Quando, além de
faltarem dólares, há desconfiança
sobre o vigor da economia de um
país, é preciso pagar juros ainda
maiores. É o caso do Brasil de hoje.
Lopes, o diretor do BC, parece afirmar que foi à toa que parte do caixa
de reservas foi cevado a juros altíssimos. O capital assim atraído não
atenderia às necessidades de pagamento ou de credibilidade do país.
Na verdade, as reservas também são
um esteio da estabilização de preços.
Há controvérsia a respeito de qual seria o nível adequado de dólares no estoque. Ou sobre qual a proporção
prudente na composição desse caixa:
quanto de empréstimos, quanto de
investimentos. O que há de certo é
que manter reservas tem um custo
que, no atual modelo econômico, se
reflete no explosivo aumento da dívida e do déficit públicos.
Num país de maiores rigores legais,
com um Congresso mais atuante,
Lopes e seu superior, Gustavo Franco, presidente do BC, seriam ao menos convidados a explicar por que se
pagou por reservas voláteis.
Não seria a primeira oportunidade
que Lopes oferece ao Congresso. Em
março, admitiu que o governo intervinha nos mercados financeiros, sem
que ficasse clara a natureza dessas
operações. Há pouco, convidou investidores a seguirem seu exemplo e
comprarem papéis na Bolsa. Em outras paragens, seria um escândalo de
promiscuidade uma autoridade monetária agir como consultor financeiro. Espera-se que algum parlamentar
tire o Congresso de sua letargia e pelo menos debata com os funcionários do BC a política de administração de reservas. Voláteis ou não, elas
custam caríssimo ao país.
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