São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

Próximo Texto | Índice

O NOVO MAPA POLÍTICO

O cenário configurado pelas eleições municipais de 2004 revela-se não apenas bastante diverso daquele em que se elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como mais desfavorável ao petismo no plano nacional. As urnas afastaram o partido governista das regiões mais ricas do país e o empurraram para os Estados menos desenvolvidos. É fato que houve um aumento considerável do número de cidades com administrações petistas. A sigla, que hoje comanda 187 prefeituras passará a administrar um total 411, dentre elas as de nove capitais.
No entanto, as vitórias do petismo, exceção feita a Belo Horizonte (MG), Vitória (ES), Recife (PE) e Fortaleza (CE), aconteceram quase sempre em locais de limitada expressão política nacional ou mesmo regional, indicando que o aumento da quantidade de prefeituras não foi acompanhado por conquistas que se destacam qualitativamente. Ao contrário, o PT sofreu importantes derrotas nas regiões Sul e Sudeste, tendo perdido espaço em redutos tradicionais e influentes, como Porto Alegre -além, obviamente, de São Paulo.
Se forem consideradas as 96 maiores cidades brasileiras, que concentram mais de 46 milhões de habitantes, esse diagnóstico se confirma. Com 24 prefeitos eleitos, o PT continuará a ser o partido que detém a gestão da maior fatia delas e governará cerca de 10 milhões de eleitores. Essa cifra, no entanto, é menor do que a obtida pelo PSDB, principal partido de oposição, que, mesmo mantendo a marca de 19 vitórias nos maiores centros urbanos, mais do que dobrou o número de eleitores sob sua administração. Os tucanos, que dominam municípios com cerca de 5 milhões de eleitores, passarão a governar mais de 13 milhões.
Considerado o conjunto dos municípios brasileiros, o PSDB é o grande vitorioso. Estará à frente de cidades que reúnem mais de 25 milhões de pessoas.
Já as prefeituras do PT, que fica com o segundo lugar, correspondem a uma população de aproximadamente 17 milhões. Esses números confirmam o peso da inédita e decisiva vitória de José Serra na cidade de São Paulo -que, além do aspecto quantitativo, revestiu-se de significado simbólico por ter sido conquistada em confronto direto com o PT.
No plano nacional, é de ressaltar, também, que, a par do insucesso de lideranças como o casal Garotinho, no Rio, o senador Antonio Carlos Magalhães, na Bahia e o senador Tasso Jereissati, no Ceará, o eleitor prestigiou legendas de porte médio, que devem se fortalecer nas articulações com vistas a 2006.
O desenho do novo mapa político, no entanto, não está consolidado. O antagonismo entre PT e PSDB vai se acentuar, mas o poder de atração do Planalto permanece. O governo ainda terá de patrocinar a reorganização de sua base de apoio, num contexto mais adverso, no qual o PSDB ganhou vida nova.


Próximo Texto: Editoriais: OS EUA VÃO ÀS URNAS

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.