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OS EUA VÃO ÀS URNAS
Os norte-americanos vão
hoje às urnas para escolher seu
próximo presidente. Não se sabe se
conseguirão. Há indícios de que poderá repetir-se o fiasco do pleito de
2000, quando um virtual empate na
Flórida e as batalhas jurídicas que se
seguiram levaram a eleição a ser decidida em favor de George W. Bush pela Suprema Corte federal.
Como ocorreu quatro anos atrás,
as pesquisas indicam uma disputa
extremamente equilibrada. Em seis
Estados é impossível arriscar até
mesmo uma tendência. O problema
não está em eleições acirradas. Elas
acontecem em muitos países e não
chegam a constituir um desafio à democracia. A questão é que o complexo sistema eleitoral norte-americano, fruto de um país que se formou a
partir de uma confederação de Estados, tende, nessas condições, a exacerbar as possibilidades de impasse.
Como as eleições nacionais nos
EUA são, na realidade, uma série de
pleitos estaduais simultâneos, multiplicam-se por 51 (para efeitos de eleição presidencial, o Distrito de Colúmbia funciona como um Estado)
as chances de que ocorram resultados próximos o bastante para poderem ser contestados judicialmente.
Todos os Estados, por ora com exceção de dois, adotam a regra de que
o vencedor leva consigo para o colégio eleitoral a totalidade dos votos a
que a unidade tem direito, o que torna vantajoso, no caso de quase-empates, recorrer ao Judiciário.
Diferenças estreitas, que se afigurem reversíveis numa eventual recontagem determinada pela Justiça, podem dar ou tirar de um dos postulantes o cargo eletivo mais importante
do mundo.
Por fim, a absoluta ausência de parâmetros comuns para a contagem
dos votos -os sistemas de votação e
apuração não variam apenas de Estado para Estado, mas também de condado para condado- dá substância
jurídica para as reclamações. Diferentes critérios podem ser interpretados como uma violação ao princípio
da igual proteção dos cidadãos diante da lei, inscrito na 14ª emenda à
Constituição dos EUA.
O quadro de extrema polarização
entre os partidos, cada qual considerando que uma vitória do adversário
será capaz de comprometer o futuro
do país, permite antever que nenhuma das partes deixará de utilizar-se
de todos os recursos jurídicos possíveis para conquistar a Presidência.
A essa altura, antes mesmo do início formal das eleições, tanto republicanos quanto democratas já despacharam exércitos de advogados e
fiscais para os Estados onde a contenda desenha-se mais dura. Alguns
procedimentos jurídicos até mesmo
foram iniciados, contestando os critérios para o registro e a recusa de
eleitores. Prevê-se que outros serão
abertos em diferentes Estados depois de contados os sufrágios.
A melhor chance de evitar a repetição do trauma de 2000 seria uma vitória contundente de algum dos candidatos, mas, a crer nas pesquisas,
esse é um dos poucos cenários que
se podem excluir do pleito de hoje.
Não deixa de ser irônico que uma
das mais sólidas democracias do planeta continue às voltas com um sistema eleitoral que pode emperrar seu
funcionamento justamente quando
a sociedade se divide ao meio.
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