São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2005

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PRESSÃO SOBRE A SÍRIA

É bem-vinda a pressão que a ONU está fazendo sobre a Síria. Estados membros da organização não podem de modo algum optar por assassinar líderes políticos estrangeiros que contrariam seus interesses ou acobertar responsáveis por crimes dessa natureza.
Assim, é corretíssima a decisão do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas de determinar que Damasco coopere integralmente com a comissão internacional que investiga o homicídio de Rafik Hariri, premiê do Líbano de 1992 a 1998 e de 2000 a 2004. Hariri foi morto em Beirute em fevereiro, e há fortes indícios de que os serviços de segurança sírios estão por trás do atentado. Na verdade, um relatório preliminar da comissão da ONU, que é chefiada pelo procurador alemão Detlev Mehlis, chegou a apontar um irmão e um cunhado do presidente sírio como suspeitos.
A resolução, que foi aprovada por unanimidade nesta semana, obriga a Síria a dar acesso irrestrito à comissão e a deter todos os suspeitos que ela deseje interrogar. Se Damasco não cumprir as determinações, "medidas adicionais" serão consideradas. Em sua versão original, a resolução previa sanções econômicas para o caso de a Síria não cooperar. Mas Brasil, China, Rússia e a Argélia -aliados de Damasco no CS- pressionaram pela retirada da referência. Para que a votação fosse unânime, os EUA concordaram. É impressionante, a propósito, a freqüência com que o Brasil fica em más companhias nessas situações.
O líder sírio, Bashar al Assad, tem agora diante de si uma decisão difícil. Ou sacrifica o irmão Maher al Assad, que é comandante de uma importante unidade militar, e o cunhado Assef Shakwat, que é o chefe da inteligência militar, ou se verá em maus lençóis com a comunidade internacional, que acabará por impor-lhe isolamento e sanções.
A dúvida é se o jovem Assad, que herdou do pai o cargo de presidente, mas não todas as rédeas do poder, tem força para contrapor-se ao influente estamento militar sírio, se for de fato essa sua intenção.


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