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CARLOS HEITOR CONY
Sopa de entulho
RIO DE JANEIRO - Na entrevista
que Lula concedeu no próprio domingo em que foi reeleito, ele fez
referência a erros e equívocos de
seu primeiro mandato. Um jornalista quis saber que erros e equívocos eram esses, e Lula citou os entraves administrativos que engavetam medidas salvadoras. Prometeu
que isso não se repetiria, qualquer
medida aprovada em sua mesa de
trabalho terá 30 dias improrrogáveis para produzir seus benéficos
efeitos.
Comovente a cara-de-pau do presidente. Os erros e equívocos que o
jornalista queria saber eram relativos aos escândalos que até agora
não estão nem apurados nem punidos. E sobre os quais o presidente
nada sabe nem sequer leu nos jornais. Na euforia da vitória, ele esqueceu que, até certo ponto, é um
presidente "sub judice".
São tais e tantas as graves maracutaias de seu governo que a qualquer momento a oposição poderá
iniciar um processo de impeachment. Evidentemente não faltará
apoio popular ao presidente, já expresso na votação que obteve no segundo turno. Mas a opinião pública
é como aquela dona da ópera de
Verdi: "è mobile". Bem verdade que
ele teve habilidade para se dissociar
do PT, abandonando na rua da
amargura alguns de seus mais antigos e próximos companheiros. Mas
o caldeirão político continuará fervendo e, de uma hora para outra,
um fato novo poderá estragar a sopa de entulho em que se transformou a política nacional.
Tenho para mim que Lula não deve temer a oposição oficial e explícita dos partidos adversários. Ele deve temer os churrasqueiros, os caseiros, os seguranças e os motoristas. Deve temer, sobretudo, a turma
ressentida do próprio PT, que espera uma oportunidade para lavar a
testada e chafurdar na vingança,
que, como toda vingança, é melhor
quando é servida fria.
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