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Falta uma parte
Negociação no Senado em torno da CPMF vai bem, mas o ganho para o contribuinte, ainda pífio, precisa ser ampliado
CAMINHA bem no Senado
a negociação em torno
da CPMF -exceto num
tópico crucial. O ganho
para o contribuinte, ausente na
mesa em que senadores e governadores tucanos discutem com o
Planalto, ainda é incerto.
Mandatários estaduais estão
satisfeitos com a proposta de aumento paulatino da fatia do imposto do cheque que vai para a
saúde. O projeto de lei regulamentando a emenda 29 da Carta
(a que fixa pisos de dispêndios
em saúde pública para União,
Estados e municípios) foi aprovado anteontem na Câmara sob a
promessa do governo federal de
injetar na área, até 2011, mais R$
24 bilhões oriundos da CPMF.
A verba adicional -significativa, diante do orçamento anual de
R$ 47 bilhões do Ministério da
Saúde- é um afago nos governadores porque sua destinação segue regras de distribuição regional. Como o número de habitantes é requisito fundamental nessa partilha, os tucanos José Serra
e Aécio Neves, governadores dos
dois Estados mais populosos e
patrocinadores do acordo com
Lula, têm pouco a se queixar.
A União, obviamente, será a
maior vencedora. Caso seja
aprovada no Senado a emenda
que prorroga a CPMF por quatro
anos, o Planalto terá a garantia
de uma receita mínima de R$ 160
bilhões com o tributo até 2011.
O alívio de impostos para o
contribuinte, contudo, seria pífio e realizado de modo a complicar ainda mais a arrecadação. Livrar da contribuição quem ganha
até R$ 1.642 seria estender um
pouco a isenção que já existe: hoje, quem tem carteira assinada e
recebe até R$ 1.140 é ressarcido
do imposto do cheque.
Permitir a dedução de parte da
CPMF no IR dos que declaram o
imposto é agregar mais um penduricalho às regras complexas
-e, portanto, facilitadoras de elisão e sonegação- deste tributo.
Mais simples seria abater a alíquota da CPMF ou de uma outra
contribuição incidente sobre as
empresas, caso da Cofins e do
PIS, mais nocivas do que o próprio imposto do cheque para a
geração de empregos.
É razoável, nesse sentido, a
proposta do Planalto de aliviar a
folha de pagamentos das empresas com um corte na contribuição ao sistema S. O importante
papel exercido por entidades como Sesi e Sesc na educação e na
cultura pode muito bem sobreviver a uma redução, desde que
moderada, de seu orçamento.
Mas fazer um abatimento de
carga tributária na melhor hipótese irrisório e em parte com o
chapéu alheio (o do sistema S)
não basta. O governo Lula deve
ser pressionado a abrir mão de
mais tributos -e de tributos que
financiam os seus gastos. Para
que isso seja factível, o Executivo
federal precisa comprometer-se
com a redução da despesa corrente federal ao longo do tempo.
Dissimuladamente, o governo
incluiu nos itens negociados com
a oposição proposta para criar
um teto de crescimento real (acima da inflação) de 2,5% ao ano
para a folha de salários do funcionalismo federal. Trata-se apenas da versão mais generosa (a
original limitava o crescimento
do gasto a 1,5%) de medida apresentada com pompa no lançamento do PAC -a qual Lula varrera para debaixo do tapete.
Ainda que dessa forma matreira, é louvável que o governo se
mostre disposto a rediscutir o tema do controle de despesas. Sem
acordo a esse respeito, não deveria haver prorrogação da CPMF.
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