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ELIANE CANTANHÊDE
A Copa vai, e o que fica?
BRASÍLIA - Não precisa ir longe.
Basta conversar alguns minutos
com um diplomata, empresário ou
consultor europeu para saber exatamente o que preocupa os gringos
que pensam em investir no Brasil:
pela ordem, a violência urbana, a
corrupção corporativa e a infra-estrutura defasada.
A violência é isso que todo mundo sabe e muitos sofrem nas grandes capitais, com traficantes armados até os dentes, polícia corrupta e
balas perdidas atingindo até crianças dentro de escolas.
A corrupção é de cima abaixo.
Antes, o foco era no corrompido, ou
seja, nos governos e nos parlamentos. Agora, é também no corruptor:
toda hora uma Gautama e uma Cisco caem na rede.
E a infra-estrutura? Aeroportos
congestionados, estradas esburacadas, a ameaça de desabastecimento
de energia. Não é só porque Evo
Morales é bonzinho que a Petrobras decidiu reinvestir na exploração de gás na Bolívia, apesar dos
ataques malcriados feitos contra a
empresa brasileira.
Bancos põem e tiram grandes volumes de dinheiro num país da noite para o dia, mas o horizonte das
corporações é de 15, 20 anos. Não
querem nem pensar em seus altos
executivos baleados no Rio ou seqüestrados em São Paulo, menos
ainda em manchetes ligando suas
marcas a maracutaias ou desperdícios por falta de infra-estrutura.
Essa discussão é pertinente, sobretudo agora, pois a Copa vem aí.
O Brasil vai gastar fortunas como
anfitrião e precisa deixar claro como, onde e por quê. Se for em estádios e empreendimentos privados,
que a população entenda o custo-benefício -o que tem interesse público, o que vai ou não reverter para
a sociedade durante e depois.
Ter a Copa no país é uma delícia,
mas ela deve se adaptar às prioridades do país, não as prioridades do
país a ela. E 2014 não vai ser um ano
qualquer. Vai ter eleição presidencial, com Lula candidatíssimo.
elianec@uol.com.br
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