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CLÓVIS ROSSI
Crimes sem cabeças
MADRI - Em seu editorial de capa
sobre o julgamento dos acusados
pelo 11M (o atentado aos trens de
Madri no dia 11 de março de 2004),
o jornal "El País" diz o seguinte:
"Significa uma vitória do Estado
de Direito ante o terrorismo, em
uma época em que abundam as respostas desproporcionadas e perigosas para as liberdades".
Tem razão: a Espanha não precisou invadir nenhum país nem criar
uma Abu Ghraib ou uma Guantánamo para apurar, prender, processar
e condenar os responsáveis pelos
atentados. Mais: a sociedade espanhola deu provas de maturidade ao
não cair em uma caça indiscriminada a muçulmanos como conseqüência dos 192 mortos e quase 2
mil feridos de 2004.
Mas há um porém significativo:
nem o Estado de Direito nem os
abusos cometidos em nome do
combate ao terror conseguiram, até
agora, dar conta da plena punição
aos responsáveis.
Como mostrou ontem a Folha,
só um dos acusados pelo 11 de Setembro nos EUA está preso, após a
devida condenação. No caso da Espanha, faltaram no tribunal os
mentores da operação.
Antigamente, quem praticava
um atentado fazia questão de assumi-lo, porque a propaganda era
parte inerente ao ato terrorista.
Agora, tanto na Espanha como nos
EUA, e até nos ataques ao metrô de
Londres, o mentor só aparece difusamente, às vezes bem mais tarde,
em vídeos de cuja autenticidade é
sempre possível duvidar.
Não estou dizendo que a Al Qaeda não exista. Só estou dizendo que
esse modelo de repassar o terrorismo a uma franquia difusa é ainda
mais perigoso e mais difícil de combater/punir. Até porque não tem
uma reivindicação objetiva.
Imaginar que matar 192 pessoas
em Madri faria a Espanha devolver
Al Andalus aos árabes, reivindicação que aqui e ali aparece em vídeos
e textos, é insano. Por isso mesmo é
tremendamente mais perigoso.
crossi@uol.com.br
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