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O GESTO DE FIDEL
O governo de Cuba libertou
cinco presos políticos, entre
eles o o jornalista e poeta Raúl Rivero, um dos mais célebres críticos do
regime de Fidel Castro. Rivero e o
restante do grupo foram vítimas da
onda de prisões políticas que varreu a
ilha caribenha em março de 2003,
condenando um total de 75 pessoas a
penas que vão de seis a 28 anos.
A soltura desses prisioneiros, no
entanto, não deve suscitar grande
otimismo em relação a uma hipotética distensão da ditadura castrista. Ao
que parece, o gesto deve-se principalmente a razões práticas. A atitude
de Fidel tem em vista tirar proveito da
oportunidade fornecida pelo recente
restabelecimento de suas relações
com Madri e pela disposição do premiê da Espanha, Luis Rodríguez Zapatero, de intermediar negociações
com a União Européia.
Em 2003, quando da prisão de Rivero e dos outros dissidentes, a UE,
importante parceiro comercial de
Cuba, diminuiu seu volume de negócios com o país e suspendeu verbas
de ajuda para o desenvolvimento
-condicionando-as à melhoria da
situação dos direitos humanos e das
liberdades políticas.
O pretexto utilizado para a soltura
os presos foi sua debilitada condição
de saúde. Vale notar que este fato
lhes rendeu apenas a liberdade condicional. Não está, portanto, excluída a possibilidade de que eles sejam
reconduzidos ao cárcere, caso retomem atividades tidas por Havana como subversivas. Ademais, não é possível desconsiderar que, segundo dados da organização Repórteres Sem
Fronteiras, ainda há cerca de 300 presos políticos na ilha caribenha.
Ao que tudo indica, a precária libertação dos opositores de Fidel não é
mais do que um afago simbólico
destinado a agradar os países europeus na tentativa de reabrir canais de
relacionamento. Parece ser mais um
gesto pragmático e não o início de
um desejável processo de distensão
política.
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