São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Acordos de cidadania

AGNELO QUEIROZ

Há séculos as desigualdades sociais e regionais afligem o povo brasileiro. Apesar de ser um país de natureza exuberante, o Brasil sofre com a exclusão social que atinge cerca de 21% da sua população. Uma geografia que virou o eixo das discussões governamentais para a criação de um projeto nacional que resgate os elementos da cultura política e econômica, em prol do desenvolvimento humano. Nessa perspectiva, as políticas públicas de inclusão social do governo Lula ganharam força nacional e formam novos contratos de cidadania.
A pobreza, o desemprego, a violência e o analfabetismo ganharam força mundial e assolam não só o Brasil e países donos dos menores Índices de Desenvolvimento Humano mas também países europeus e orientais, desenvolvidos em sua política econômica.
Os novos caminhos traçados pelo Brasil colocam o esporte como ferramenta para incrementar a economia, gerando emprego e contribuindo para o desenvolvimento local, o que levantou interesse e olhares de outros países, até então voltados exclusivamente para acordos comerciais, em realizar parcerias na área social. É o Brasil exportando política pública de inclusão social, como os programas Segundo Tempo e Pintando a Liberdade, gerenciados pelo Ministério do Esporte. Esses programas trabalham o esporte como meio para melhorar o sistema educacional e aumentar a geração de emprego e renda.


Os novos caminhos traçados pelo Brasil colocam o esporte como ferramenta para incrementar a economia


No Segundo Tempo, mais de 800 mil alunos matriculados na rede oficial de ensino fundamental e médio, em áreas de vulnerabilidade social, têm oportunidade de ampliar a permanência na escola, praticando esportes e tendo acesso à alimentação e ao reforço escolar. Utilizando a estrutura das próprias escolas, clubes sociais, Exército ou outras entidades parceiras do programa, torna-se possível manter as crianças em ambiente saudável, com saúde e longe do trabalho infantil e da violência das ruas.
Não distante, o programa Pintando a Liberdade também trabalha com a reinserção social, profissionalizando quase 13 mil detentos do sistema carcerário brasileiro, e essa ação já começa a ser expandida para comunidades de baixa renda. Além de empregar mão-de-obra e ensinar um novo ofício, o programa supre a carência de materiais esportivos nas escolas públicas onde o Segundo Tempo atua.
Isso é a transversalidade dos projetos esportivos para ampliar os resultados das ações sociais. Já são mais de 900 mil bolas produzidas artesanalmente para beneficiar 18 milhões de crianças. Não à toa, os olhares internacionais se voltam aos programas. As bolas com guizo, produzidas pelos detentos e utilizadas em torneios para deficientes visuais, são referência internacional nos jogos Paraolímpicos e já foram distribuídas para 108 países, como Inglaterra, Japão, Itália, China, Estados Unidos, Canadá e França.
Além de serem programas de baixo custo, que envolvem parcerias com ONGs, sociedade civil e outras entidades, também significam uma economia para o governo. No caso do Segundo Tempo, as estruturas das Forças Armadas e dos clubes sociais podem ser palco desse desenvolvimento, o que despertou interesse da Rússia, mais novo parceiro do governo federal em acordos comerciais e em intercâmbios de experiências vitoriosas na área esportiva.
Em Moçambique, a implantação do programa Pintando a Liberdade vai significar uma economia de 90% para o governo local na aquisição de bolas de futebol, que hoje são importadas da África do Sul ao custo de US$ 55. Com a produção artesanal, o valor não passará de US$ 6. Os acordos bilaterais na área de esporte começam a atingir novos mercados mundiais e, até o final do ano, Angola e Haiti também irão instalar os programas em seus países, um sinal de apoio e solidariedade às nações irmãs.
Segundo relatório das Nações Unidas para a realização das Metas do Milênio, é preciso cultivar uma parceria global e maximizar o esporte como meio para o desenvolvimento sustentável e a paz. Todos esses objetivos só podem ser alcançados com esforços conjuntos para colocar um tema -que, por sua própria natureza, envolve participação e une indivíduos e comunidades- como meta para um só acordo: a vitória da tolerância, da cooperação e do respeito.
E, acredito, o esporte é um importante meio para atingir esse grande projeto nacional contra a exclusão social e a favor do desenvolvimento humano.

Agnelo Queiroz, 46, médico, deputado federal (PC do B-DF) licenciado, é o ministro do Esporte.


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